"...Com o passar do tempo, descobri que o Taro é um instrumento de trabalho precioso, um guia seguro, prudente e sábio, Pude dar-me conta do seu poder e vi que através de suas imagens pode-se descobrir a Deus..."
Colette Baron-Reid
O Tarot como instrumento de meditação e de autoconhecimento
Fisicamente, o Tarô é apenas uma série de cartões com curiosos desenhos neles pinta- dos, mas resulta que estes desenhos são total- mente simbólicos. Podemos dizer que o Tarô não fala outra linguagem e não oferece outros recursos, senão os simbólicos. O oculto significado dos seus emblemas converte-se num alfabeto O que admite combinações infinitas, e todas elas tem um sentido.
Nos níveis mais elevados chega a nos oferecer a chave do mundo e a chave da alma humana, e nos mostra uma via para conhecer-nos a nós mesmos. "Quem se conhece a si mesmo conhece o seu Senhor", dizia um grande sábio sufi. Neste sentido, o Tarô é um poderoso instrumento de investigação mística e de autoconhecimento, cujo valor dificilmente se poderá superar. Para Paul Foster Case, a função mais importante do Tarô é evocar pensa- mentos e potencialidades da alma humana, e cada uma das suas cartas corresponde a um aspecto do nosso próprio ser interior. Deste modo, o fato de concentrar-se sobre o Mago ajuda a desenvolver os poderes de concentração e atenção; ao fazê-lo sobre a sacerdotisa, estimula-se a memória.
A Imperatriz desenvolve a imaginação criativa, o papa, a intuição, e assim sucessivamente. No seu livro The Tarot, a Key to the Wisdom of the Ages, recomenda realizar uma meditação diária de cinco minutos de duração, olhando uma das cartas, sem pensar em nada, com a intenção de que o ato de contemplar tal figura evoque e ponha em funcionamento no nosso sub- consciente o poder ou os poderes que correspondem a ela. Nesse sentido - como dizia Elifas Levi - alguém trancado numa cela, sem nada mais que um baralho de Tarô, poderia possuir todo o conhecimento do universo.
Uma simples meditação de poucos minutos cada dia sobre as cartas do Taro, e especialmente sobre os Arcanos Maiores, pode produzir resultados surpreendentes em nosso desenvolvi- mento. É conveniente realizá-la sempre na mesma hora, num lugar tranquilo, onde não vamos ser interrompidos nem perturbados. Também é aconselhável ter um diário no qual anotamos tanto as ideias surjam durante a própria meditação - e que deverão ser automaticamente apanhadas da mente para que esta se centralize novamente na carta e em nada mais - como os sonhos, os sucessos relevantes ocorridos durante o dia, as coincidências e as ideias que surjam espontaneamente como uma força especial. Os seguintes atributos abaixo dos Arcanos Maiores (Utilizamos o Tarôt Mitológico) podem servir de guia para este tipo de meditação:
O LOUCO
PRINCÍPIO CRIADOR
O MAGO
VONTADE
SACERDOTISA
INCOSCIENTE, UNIÃO
A IMPERATRIZ
NATUREZA, LUZ
O IMPERADOR
CONSTRUÇÃO, ORDEM
O PAPA
A INTUIÇÃO
OS ENAMORADOS
DIVISÃO, MOMENTO DE DECIDIR
O CARRO
DOMINAR AS EMOÇÕES
A FORÇA
O TRABALHO
O EREMITA
O MESTRE INTERIOR
RODA DA FORTUNA
CONCILIAÇÃO, ACEITAÇÃO
A JUSTIÇA
EQUILÍBRIO
O ENFORCADO
O OCULTO, A RENÚNCIA
A MORTE
O ILUSÓRIO
TEMPERANÇA
EXPERIÊNCIA COMO BASE DO CONHECIMENTO
O DIABO
A RENOVAÇÃO, O HUMOR
A TORRE
A TRANSFORMAÇÃO
A ESTRELA
A MEDITAÇÃO
A LUA
A CONSCIÊNCIA CORPORAL
O SOL
A FERTILIDADE
O JULGAMENTO
O ETERNO
O MUNDO
REALIZAÇÃO, LIBERDADE
Um simples exercício
Outra forma de utilizar o Tarô com esta finalidade meditativa: estender os Arcanos Maiores, com as cartas de costas, numa mesa ou superfície plana diante de nós, seguidamente, realizar cinco respirações profundas, tranquilizando logo a mente para observar as cartas, uma a uma, conforme vão atraindo nossa atenção, procurando não pensar em outra coisa, mas registrando as imagens que espontaneamente nos venham. Talvez nos centralizemos numa carta ou nalgumas poucas, não há regras para este exercício, o importante é observá-las deixando que seja a vista que selecione as que mais nos atraem e que, seguidamente, se pouse nelas o tempo que for desejado. Se surgem ideias, as anotamos logo, em caso contrário, devemos recordar que a linguagem simbólica do Tarô está trabalhando sobre nossa mente subconsciente, organizando padrões e talvez transmitindo-nos - sem passar pela mente consciente - uma par- te da sabedoria e dos conhecimentos que seus criadores encerraram nestes estranhos desenhos (ainda que, na realidade, o processo ocorra justamente pelo inverso: é nossa mente sub- consciente a que, estimulada e informada pelo simbolismo do Taro, realiza valiosos reajustes internos). Nunca se insistirá demasiadamente na importância de trazer um diário onde anotemos tudo o que for relacionado a estes exercícios.
Não há que esperar resultados espetaculares, mas, sem dúvida alguma, as mudanças que ocorrem em nossa mente, em níveis profundos, ficarão incorporadas em nosso comportamento e em nosso redor: no caminho e na trajetória que seguirmos a nossa vida. O sistema educativo atual, totalmente cartesiano, esqueceu, há muito tempo, que os ensinamentos mais importantes não entram em nós através da mente consciente. Existem muitos professores, porém poucos Mestres. Esta forma de transmitir informação não é supostamente exclusiva do Tarô. Há seres humanos que nos ensinam com sua simples presença.
lugares cuja influência também é deste tipo e, supostamente, esta é a forma de ensinar dos verdadeiros Mestres da Humanidade, estes seres que não por estarem fora do alcance dos nossos sentidos físicos são menos reais.
Num nível menos transcendente, o Taro pode ser também uma ferramenta muito útil. Por exemplo, nessas ocasiões em que não somos capazes de recordar um nome - nós o temos na ponta da língua, como se habituou a dizer uma breve contemplação da Sacerdotisa, mantendo a mente em branco é sufi- ciente para que a palavra rebelde saia espontaneamente para a superfície de nossa mente.
O Tarot como instrumento divinatório
A utilização do Taro como instrumento divinatório, é, pelo menos, tão antiga como o seu uso para a meditação e o trabalho interior e, concluindo, muito mais frequente e popular. Desde os dias de Etteilla até a época atual, a palavra Taro não costuma evocar no homem comum outro sentimento que o de as artes divinatórias e tudo o que a elas estiver relacionado,
Entretanto, como funciona o Taro? Como é possível que algumas simples figuras pintadas numas peças de cartolina nos digam o futuro ou nos aconselhem sobre algo que consciente- mente não somos capazes de adivinhar?
Contudo, além da mente consciente, que é a que você está utilizando para ler estas linhas e a que todos utilizamos habitualmente em nossos afazeres diários, existe uma parte de nós mesmos da qual não nos habituamos a perceber, e a que lhe foi dado chamar de mente subconsciente, Segundo afirmam distintas correntes filosóficas, desde há milhares de anos, esta parte de nós mesmos sabe de tudo, conhece tudo e, portanto, pode predizer tudo. O tempo e o espaço não têm sobre ela o mesmo rígido domínio que exercem sobre nosso corpo ou sobre nossa mente consciente. Segundo o psicólogo suíço Carl Gustav Jung a mente subconsciente está em contato permanente com o inconsciente coletivo: um vasto depósito onde se acumular todos os conhecimentos, toda a sabedoria e todas as experiências da humanidade, desde os primeiros habitantes desta terra até os nossos dias.
Qualquer uma que tenha sido a sua origem, as figuras do Taro parecem ter sido idealizadas de acordo com certos padrões deste inconsciente coletivo: ele explicaria porque são tão eficazes para vir à superfície e trazer para a consciência conhecimentos dos quais não temos acesso geralmente, pois, nós, seres humanos, fomos constituídos de forma tal que entre o consciente e o inconsciente existe uma barreira bastante difícil de franquear, e o tipo de vida ocidental, totalmente voltado para o externo e que despreza os mais tênues sinais que geralmente nos chegam do lado subconsciente (em forma de sonhos, premonições, intuições, sinais etc.), não fez nada mais senão reforçar a mencionada barreira.
O fato é que estes conhecimentos inconscientes aí estão muitas vezes, dir-se-ia que pulsando para sair, tão somente à espera de que tranquilizemos a mente consciente, de que nos apartemos por um momento do ruído mundano e olhemos, ainda que seja timidamente, em direção ao nosso interior. O Tarô é um instrumento muito útil para facilitar que aflorem os referidos conhecimentos. Assim, parece que a mente inconsciente influi sem percebê-lo, nos movimentos de embaralhar, cortar e escolher as cartas, de modo que estas, ao serem descobertas, tenham uma relação muito direta com o assunto que se quer consultar O tipo de conhecimento que o Taro nos dará do inconsciente. nós o decidimos. Daí seu uso meditativo, de desenvolvimento ou divinatório.
O que se pode perguntar? Qualquer coisa, mas o tipo de pergunta que se faz é muito importante para determinar a resposta que o Tarô nos irá fornecer. O acerto da resposta está em função da exatidão da pergunta. Quanto mais precisa for a pergunta, mais precisa será a resposta. Se sua pergunta é vaga e geral, a sua resposta também será assim, se a pergunta é formulada com muitos detalhes, espere uma resposta muito por menorizada.
Naturalmente, também é importante que, no momento em que formule a pergunta, sua mente esteja centrada. Se estiver nervoso e ansioso, ainda que estes sentimentos não tenham nada a ver com a pergunta, as cartas do Tarô lhe darão uma res posta sobressaltada e errática, que será difícil interpretar. É bom ter a mente tranquila. Entretanto, tampouco é necessário fazer ioga e meditar antes de fazer uma pergunta (ainda que, natural- mente, não lhe traria nenhum dano!). Tudo o que tem a fazer, é deixar de lado suas preocupações durante um momento, acalmar a mente, observar tranquilamente a respiração sem pensar em nada... e logo... perguntar.
É necessário dizer que a crença no Taro é um componente essencial do processo. Você deve crer que o Taro não apenas pode responder-lhe, mas também o fará. Sem esta crença, tudo é inútil. Se for outra pessoa quem lê o Taro para você, também deverá, pelo menos, considerar o conselho que esta pessoa lhe dê e não desprezar suas palavras como se fossem os desvarios de um louco. O Tarô funciona apenas para aqueles que desejam ouvir. Se alguém não quer que o ajudem, não existem meios para que o Tarô o faça. A fé atua como uma ponte entre os diferentes níveis do ser, entre diferentes níveis da existência, e por esta ponte pode circular a energia (o mesmo ocorre em certos tipos de cura ou em muitos atos religiosos). Sem fé não há ponte e não se pode receber nada.
Se você quer ser ajudado e cré que pode obter uma res posta, significa que está pronto para fazer uma pergunta.
Também há ocasiões, nas quais, à primeira vista, você poderia pensar que a resposta que o Tarô lhe dá não tem relação alguma com a pergunta que foi feita, nem com a sua
situação atual. Nestes casos, não deve precipitar-se em fazer tais tipos de juízo. Vale a pena que se conceda um tempo para refletir sobre a resposta que as cartas lhe deram, assim como sobre a sua pergunta. Em algum momento, a resposta se tornará clara em sua mente.
Leia cuidadosamente os significados de cada carta, conforme vierem explicados na sequência, tendo em conta que estas são apenas algumas ideias iniciais, que irão ajudá-lo a começar a construir uma relação com o Tarô, que tem que ser única e pessoal.
Se alguma das ideias ou dos significados atribuídos a uma carta que você tenha lido neste livro ou noutro lhe parecerem inadequados, desfaça-os sem mais demora e aplique os seus no lugar.
Reflita sobre as descrições dadas e detenha-se um momento para pensar a respeito do que cada uma das cartas diz a você, pois, novamente, a informação que damos aqui, não pretende ser senão um guia que o inicie e o estimule a realizar suas próprias descobertas.
Edith Waite