5 de mar. de 2018

Os Mistérios e Poderes das Cabaças (Porongos)

Um dos grandes mistérios contidos nas religiões afro-brasileiras é o uso ritualístico da cabaça. Alguns adeptos chegam desconhecer esse fundamento, mas esse pequeno texto ressaltará a importância desse elemento especialmente dentro do culto de Exu. 


Em primeiro lugar, todos devem ter ciência que a cabaça é um fruto e suas sementes são comestíveis. É o fruto da cabaceira (Cucurbita lagenaria L.) e basicamente tem uma forma arredondada e um pescoço curto ou longo, podendo tomar outras formas, dando–lhe assim condições de ter diversas utilizações. Depois de extraída, torna-se seca e sólida. Por dentro possui algumas sementes. Quando cortada, deve-se retirar a polpa, deixando-a secar, para ser usada como utensílio. Inteira, é denominada cabaça; cortada é cuia ou coité, e as maiores são denominadas cumbucas.

Provavelmente em épocas remotas tenha se espalhado pelo mundo através dos rios e mares, afinal, por serem lacradas e flutuantes, suas sementes estão protegidas. Ao encontrarem solo favorável germinavam. Por tal motivo arqueólogos já encontraram artefatos feitos em cabaças em diversas culturas espalhadas pelo mundo.

Nos ritos de Candomblé, sua utilização é ampla, tomando nomes diferentes de acordo com o seu uso, ou pela forma como é cortada. A cabaça inteira é denominada Àkèrègbè e a cortada em forma de cuia toma o nome de Ìgbá. Cortada em forma de prato é o Ígbáje, ou seja, o recipiente para a comida. Cortada acima do meio, forma uma vasilha com tampa, tomando o nome de Ígbáse, ou cuia do Àse, e é utilizada para colocar os símbolos do poder após a obrigação de sete anos de uma Ìyáwó, como a tesoura, navalha, búzios, contas, folhas, etc que permitirão à pessoa ter o seu próprio Candomblé.

A cabaça representa em muitas lendas africanas o "pote que guarda todos os mistérios da cura, da vida e da morte", é um elemento vegetal poderosíssimo e de grande valor simbólico.

Um grande mistério desse fruto é “Proteção”! É um elemento que protege suas sementes e resiste às jornadas da vida.

Outro mistério é “Expansão e Crescimento”, pois a partir do primeiro pé se espalhou pelo mundo inteiro. Esse princípio é descrito nos cultos afro como ‘àdó-iràn’ ou a cabaça que contém a energia/força que se propaga. Segundo o culto Yorubá, quando Èsú aponta a ponta de sua cabaça para algo, transmite seu àsé (energia vital). A cabaça pontiaguda possui uma relação esotérica com a própria força masculina e dinâmica, como se representasse o aparelho reprodutor masculino.

“...Nas religiões afro brasileiras, a cabaça é igba, na terminologia nagô, que representa o universo, o masculino e o feminino; o símbolo da união de Obatalá e Oduduwá, o Céu e a Terra...” (Jeff Celophane)

Dentro do culto africano, Èsú é tanto portador do sêmen como do útero ancestre, além de ser condutor do princípio da vida individualizada. A Quimbanda também entende dessa maneira, entretanto, separa as funções por polaridade, ou seja:

  • Exus: positivos, dinâmicos, portadores do falo mítico (Okane) cuja cabaça pontiaguda representa a energia masculina.
  • Pombagira: negativa, receptiva, portadoras dos segredos do útero ancestre cuja cabaça é arredondada.

As sementes da cabaça pontiaguda possuem propriedades espirituais fortíssimas que podem descarregar energias nocivas e carregar o corpo com energias dinâmicas. Um banho feito com tais sementes propicia ao adepto forças de abertura de caminhos. Já os banhos feitos com as sementes da cabaça arredondada (similar a um coco) funcionam como forte atrativo de energias vitais. Algumas mulheres tomam banho de semente de cabaça para engravidar.

Certo é que a cabaça possui vários usos. São excelentes recipientes para os pós e pembas mágicas, pois asseguram que a energia não se dissipe. Cortadas horizontalmente são as cuias apropriadas para o uso nos banhos de ervas, pois fornecem parte da história de sua evolução para o líquido (sangue verde).

Substituindo os copos por cabaças, o vinho e a água servido aos Pretos Velhos, Caboclos e Exus terão um valor energético a mais. Nas oferendas a substituição também é muito bem aceita e importante, afinal é natural, tem valor energético, tem simbologia e é biodegradável. Dessa forma as bebidas recebem os mistérios de vida e morte contidos na cabaça.

Existem práticas obscuras feitas com a cabaça, tais como explodi-las com a tuia (pólvora) para afastar e eliminar os inimigos. Nessas ocasiões é cantado o ponto:

“Exu quebra a cabaça, espalha a semente, afasta todo mal que ronda a gente!”

As cabaças são usadas para muitos feitiços e mirongas. Suas propriedades são perfeitas para uma infinidade de práticas. Lembramos que é um dos materiais indispensáveis nos assentamentos de Exu e, em certos casos, tornam-se o vaso que Exu é assentado.

Tomar banho com as sementes da cabaça é excelente para descarregar o campo mediúnico, favorecendo o equilíbrio mediúnico e a harmonização emocional.


Fonte. 
Candomblé Arte Sagrada
Templo de Umbanda Irmãos da Luz

Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário:

Postar um comentário