Um dos grandes mistérios contidos nas religiões
afro-brasileiras é o uso ritualístico da cabaça. Alguns adeptos chegam
desconhecer esse fundamento, mas esse pequeno texto ressaltará a importância
desse elemento especialmente dentro do culto de Exu.
Em primeiro lugar, todos devem ter ciência que a cabaça é um fruto e suas sementes são comestíveis. É o fruto da cabaceira (Cucurbita lagenaria L.) e basicamente tem uma forma arredondada e um pescoço curto ou longo, podendo tomar outras formas, dando–lhe assim condições de ter diversas utilizações. Depois de extraída, torna-se seca e sólida. Por dentro possui algumas sementes. Quando cortada, deve-se retirar a polpa, deixando-a secar, para ser usada como utensílio. Inteira, é denominada cabaça; cortada é cuia ou coité, e as maiores são denominadas cumbucas.
Provavelmente em épocas remotas tenha se
espalhado pelo mundo através dos rios e mares, afinal, por serem lacradas e
flutuantes, suas sementes estão protegidas. Ao encontrarem solo favorável
germinavam. Por tal motivo arqueólogos já encontraram artefatos feitos em
cabaças em diversas culturas espalhadas pelo mundo.
Nos ritos de Candomblé, sua utilização é ampla, tomando
nomes diferentes de acordo com o seu uso, ou pela forma como é cortada. A
cabaça inteira é denominada Àkèrègbè e a cortada em forma de cuia toma o nome
de Ìgbá. Cortada em forma de prato é o Ígbáje, ou seja, o recipiente para a
comida. Cortada acima do meio, forma uma vasilha com tampa, tomando o nome de
Ígbáse, ou cuia do Àse, e é utilizada para colocar os símbolos do poder após a
obrigação de sete anos de uma Ìyáwó, como a tesoura, navalha, búzios, contas,
folhas, etc que permitirão à pessoa ter o seu próprio Candomblé.
A cabaça representa em muitas lendas africanas o "pote que guarda todos os mistérios da
cura, da vida e da morte", é um elemento vegetal poderosíssimo e de grande
valor simbólico.
Um grande mistério desse fruto é “Proteção”! É um
elemento que protege suas sementes e resiste às jornadas da vida.
Outro mistério é “Expansão e Crescimento”, pois a
partir do primeiro pé se espalhou pelo mundo inteiro. Esse princípio é descrito
nos cultos afro como ‘àdó-iràn’ ou a cabaça que contém a energia/força que se
propaga. Segundo o culto Yorubá, quando Èsú aponta a ponta de sua cabaça para
algo, transmite seu àsé (energia vital). A cabaça pontiaguda possui uma relação
esotérica com a própria força masculina e dinâmica, como se representasse o
aparelho reprodutor masculino.
“...Nas religiões afro brasileiras, a cabaça é igba, na terminologia nagô, que representa o universo, o masculino e o feminino; o símbolo da união de Obatalá e Oduduwá, o Céu e a Terra...” (Jeff Celophane)
Dentro do culto africano, Èsú é tanto portador do sêmen como
do útero ancestre, além de ser condutor do princípio da vida individualizada. A
Quimbanda também entende dessa maneira, entretanto, separa as funções por
polaridade, ou seja:
- Exus: positivos, dinâmicos, portadores do falo mítico (Okane) cuja cabaça pontiaguda representa a energia masculina.
- Pombagira: negativa, receptiva, portadoras dos segredos do útero ancestre cuja cabaça é arredondada.
As sementes da cabaça pontiaguda possuem propriedades
espirituais fortíssimas que podem descarregar energias nocivas e carregar o
corpo com energias dinâmicas. Um banho feito com tais sementes propicia ao
adepto forças de abertura de caminhos. Já os banhos feitos com as sementes da
cabaça arredondada (similar a um coco) funcionam como forte atrativo de
energias vitais. Algumas mulheres tomam banho de semente de cabaça para
engravidar.
Certo é que a cabaça possui vários usos. São excelentes
recipientes para os pós e pembas mágicas, pois asseguram que a energia não se
dissipe. Cortadas horizontalmente são as cuias apropriadas para o uso nos
banhos de ervas, pois fornecem parte da história de sua evolução para o líquido
(sangue verde).
Substituindo os copos por cabaças, o vinho e a água servido
aos Pretos Velhos, Caboclos e Exus terão um valor energético a mais. Nas oferendas
a substituição também é muito bem aceita e importante, afinal é natural, tem
valor energético, tem simbologia e é biodegradável. Dessa forma as bebidas recebem os mistérios de
vida e morte contidos na cabaça.
Existem práticas obscuras feitas com a cabaça, tais como
explodi-las com a tuia (pólvora) para afastar e eliminar os inimigos. Nessas
ocasiões é cantado o ponto:
“Exu quebra a cabaça, espalha a semente, afasta todo mal que
ronda a gente!”
As cabaças são usadas para muitos feitiços e mirongas. Suas
propriedades são perfeitas para uma infinidade de práticas. Lembramos que é um
dos materiais indispensáveis nos assentamentos de Exu e, em certos casos,
tornam-se o vaso que Exu é assentado.
Tomar banho com as sementes da cabaça é excelente para
descarregar o campo mediúnico, favorecendo o equilíbrio mediúnico e a
harmonização emocional.
Fonte.
Candomblé Arte Sagrada
Templo de Umbanda Irmãos da Luz