Tão poderosa quanto o seu marido Xangô, Iansã é uma deusa
que percorreu vários reinos em busca da sabedoria de outros orixás. Utilizando
de sua ampla capacidade de despertar a paixão, aprendeu várias habilidades
pertencentes a outras divindades. Só não conseguiu tal feito quando se deparou
com Obaluaê, orixá que jamais se rendeu aos encantos de outro alguém.
Irrequieta tal qual o marido, Iansã tem forte espírito
guerreiro e já foi de grande serventia quando Oxalá precisava vencer uma
batalha. Nessa ocasião, ele contava com a ajuda de Ogum, feitor de armas.
Contudo, mesmo se dedicando o máximo que podia, o orixá ferreiro não conseguia
atender a demanda de Oxalá. Ao notar a reclamação do guerreiro, Iansã, que
ainda não havia se casado com Xangô, se pôs a ajudar na fabricação das armas
soprando o fogo que as forjavam.
Por meio desse mito, vemos que Iansã tem sua força ligada à
participação nas guerras e no domínio dos ventos. Toda vez que um grande
deslocamento de ar acontece, os devotos desse orixá reconhecem o seu poder de
atuação. Dessa forma, sendo portadora dos ventos e senhora de batalhas, esse
orixá feminino se destaca ao se mostrar detentora de habilidades e
comportamentos tradicionalmente masculinos.
Oyá, outro nome comum para Iansã, também está ligada ao
mundo dos mortos. Através de um instrumento litúrgico, feito com rabo de
cavalo, ela conduz a trilha que estabelece esse contato entre os que não estão
mais vivos. Além disso, é esse mesmo orixá que prepara roupas especiais para os
mortos, chamadas de egungum. Por meio desse traje, os mortos adquirem a
capacidade de voltar à Terra para entrar em contato com os seus descendentes.
Ao mesmo tempo em que é ligada ao fogo, por sua capacidade
de despertar paixões, Oyá também está costumeiramente associada ao poder dos
trovões e da eletricidade. Esse último poder foi adquirido junto a Xangô, que
lhe ensinou tal habilidade em sinal do arrebatador sentimento que lhe tomou ao
conhecer a bela divindade. Tal gesto de devoção seria crucial para que Iansã
aprendesse a diferença entre um amor verdadeiro e a simples paixão.
No âmbito sincrético, a mitologia de Iansã é usualmente
associada à Santa Bárbara, divindade católica que foi morta pelo pai ao se
converter ao cristianismo. Após a execução de Bárbara, um raio atingiu a cabeça
de seu progenitor. Pela razão do óbito, muitos equiparam a santidade católica
ao poder que Oyá tem de controlar os ventos e raios. Além disso, o fato de
Santa Bárbara ser representada com uma espada nas mãos reforça ainda mais a
aproximação junto à divindade afro.
Por Rainer Sousa
Graduado em História