26 de set. de 2024

A diferença dos Exus e os Daemons

Exus (Entidade de MACUMBA, QUIMBANDA e UMBANDA), num 1º momento, surgem como espíritos de ancestrais de origem BANTU, eram pessoas que morreram e que na maioria tinham ligação com práticas de feitiçaria e magia. Esses feiticeiros eram conhecidos como NGANGA quando vivos. Começaram a se manifestar nos CALUNDU, CABULA e MACUMBAS brasileiras e eram chamados de KILUNDU (ancestrais) ligados ao reino dos BAKURO (seres divinizados). Isso tudo no período ruralista do país.

No processo de urbanização e transição dos cultos para as cidades, esses ancestrais (KILUNDU) começam a ser chamados de “EXU” por pessoas que enxergam neles semelhanças em relação ao Orixá ESÙ africano. Pelo fato de o ESÙ africano ser visto como diabo pelos cristãos, na associação, os KILUNDU (Espíritos de NGANGA) acabam também sendo tidos como diabo pelo senso comum ignorante, e assim a nomenclatura “EXU” se torna uma “CORRUPTELA” para nomeá-los. 

Exu por ser um nome masculino acaba não servindo para nomear as KILUNDU FEMININAS, e então pegam uma divindade no panteão Bantu para nomeá-la PAMBU NJILA (Nkisi dos caminhos e bifurcações). Com tempo as KILUNDU FEMININAS, ou seja, EXU MULHER, se tornam as famosas POMBOGIRAS.

No século 20, Exu e Pombogira se tornam nomes usuais, e o seu culto recebe profundas influências culturais e ritualísticas, e deixam de ser apenas ancestrais de origem Bantu para assimilar também entidades como Ze Pelintra, Maria Padilha, Catiços, Povos da rua, Povo do comércio, entre outros, até que e enfim vão sendo categorizados e separados em Reinos.  A Quimbanda é a responsável por fazer essas categorizações por reinos através de suas primeiras famílias tradicionais (Nagô, Malei e Mussurumin).  Com certeza você macumbeiro já ouviu falar sobre os 7 REINOS DE EXU não é mesmo?

Já os DAEMONS são DEIDADES SUBLUNARES; ficaram mais conhecidos a partir da era grega e helenística. Num momento em que Alexandre o Grande promoveu o intercâmbio cultural entre nações do Mediterrâneo e do Oriente. 

Os DAEMONS ganharam formatações em diversos períodos da história, no geral podem ser vistos como Deuses de antigas civilizações, Gênios da natureza, Decanos egípcios, seres ctônicos (submundo), telúricos (terra) e aéreos. Diferentes dos ancestrais (Kilundu) das Macumbas (Nganga/Exu), os Daemons em sua maior parte não tiveram vida terrena. São assimilados e cultuados dentro de premissas astrológicas, sendo regidos por planetas e tendo ligações com ervas, pedras, metais e outros elementos da natureza. Foram também associados ao diabo pelos cristãos, e isso deu a eles uma roupagem diabólica que permeia a visão dos incautos até hoje.

O que conecta EXUS e DAEMONS de um modo geral é o fato de serem seres para além do bem e do mal, muito conectados com a MATERIALIDADE das COISAS. Exus e Pombogiras como ancestrais que se manifestam numa relação de troca com quem os cultua, e os Daemons como deidades que para além das trocas de culto, estão presentes nas diversas nuances e facetas dos fenômenos da vida.  A correlação entre eles data principalmente o fim do século 19 e começo do século 20, muito por conta dos pretos Malês e Alufás que cultuavam os Djinn (Daemons árabes), e também por conta de feiticeiros iniciados nos segredos de São Cipriano que vieram para o Brasil. Isso tudo culminou nas Macumbas e na Quimbanda. 

Mesmo que alguns digam o contrário, é possível sim cultuar os 2 (Exus e Daemons), porém, o indicado é que haja algum tipo de iniciação para que não acabe caindo em armadilhas. É um tipo de prática que requer conhecimento, fundamento e propósito.

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