31 de ago. de 2018

Cultura, Ética e Bom senso fazem um bom Sacerdote de Umbanda


O que leva muitas vezes uma pessoa a procurar a Umbanda é muito diverso. Algumas pessoas chegam pela dor, outras pelo amor, outras pelo conhecimento, e já é um clichê falarmos desses caminhos dentro da religião. O interessante a se analisar é o fato de que muitas vezes essas pessoas depositam na Umbanda uma carga muito forte de significados e afetos.



Ao adentrar a religião de Umbanda tais pessoas descobrem um novo mundo a ser desbravado, novos significados a serem interpretados, novas verdades a serem descobertas. São arquétipos, rituais, preceitos, conceitos e doutrinas que enchem os que estão chegando de esperanças e expectativas para um novo universo que se abre.

O papel de um Sacerdote diante desse cenário é amplo e complexo, se faz necessário além do profundo entendimento dos fundamentos da religião, ter também um bom entendimento filosófico da mente humana. Ao lidar com filhos, antes de tudo se está lidando com seres humanos, pessoas de carne e osso, com sentimentos, limitações. O Sacerdote é alguém que foi escolhido pela espiritualidade para encaminhar homens e mulheres nas suas mais diversas características e em suas buscas por evolução e crescimento.

Sendo assim, é muito complicado presenciar casos em que o iniciante deposita profunda empatia por um Sacerdote, e que tal na realidade não carrega reais compromissos para com seus filhos. Não é difícil ouvirmos experiências de pessoas que buscaram abrigo em terreiros e que depois de pouco tempo perceberam que ali não era um lugar que primasse pela ética e pelo compromisso. Havia todo um aparato espiritual, porém com uma dirigência perdida ou alheia em seus posicionamentos como seres humanos.

Um Sacerdote pode muito bem pensar que basta montar uma tronqueira, um altar, dias semanais de atendimento para consulentes e que dessa forma tudo está resolvido, que as falanges e os guias se responsabilizarão pelo resto a ser feito, que tudo se encaminhará devidamente apenas com ativações das velas, defumações, orações, cantos, pontos riscados e preces. Isso acontece, não é uma, nem duas vezes, muitos são os casos onde se deposita imensa carga no plano espiritual ativando-o sem que se prime pelo papel humano dentro do contexto.

Uma situação como essa, onde o sacerdote não se preocupa com processos éticos e psicológicos da rotina de seu terreiro pode enfim ocasionar danos irreversíveis tanto para a casa quanto para os filhos. Toda a esperança e expectativa de um filho depositada na religião pode ser abalada, comprometida, e assim nunca mais conseguir se realinhar. Muitos se afastam e nem voltam mais a frequentar outros terreiros, chegam a mudar de religião quando se sentem frustrados por terem dado a um Sacerdote a confiança e em troca terem sido tratados com desrespeito e descomprometimento.

Um Sacerdote é um líder, alguém que acima de conhecimento do que faz precisa ser um sábio que transite com ética e bom senso pelas diversas situações ligadas a sua função dentro de um terreiro. Sua função, acima da espiritualidade é social. Não é uma questão de castidade ou de tentar ser uma pessoa que não se é, mas sim de ser alguém que pondere, que reflita, que olhe por diferentes posições para lidar com aqueles que o procuram e o tratam como mestre.

Um sacerdote que ultrapasse as linhas da ética e do bom senso só atrapalha a missão da Umbanda dentro da esfera terrestre, pois sendo desrespeitoso, injusto, promíscuo, rude, ignorante, omisso ou imparcial, fará com que seja necessário sobrecarregar o plano espiritual com funções que teoricamente não são apenas das falanges e nem dos guias. A relação sadia entre sacerdote e filhos, a comunicação clara e respeitosa, um ensinamento livre e assertivo a respeito dos fundamentos religiosos, isso tudo não é só função do plano espiritual, o Sacerdote precisa entender seu papel nisso e ver que seu desempenho é bem mais relevante pela forma como lida com seus filhos e a sociedade do que enfim a espiritualidade por si só.

Cultura, ética e bom senso fazem um bom Sacerdote. Sem precisar ativar planos transcendentes é possível encaminhar irmãos as vezes em apenas um conselho lúcido, as vezes é possível numa facilidade comunicativa mostrar a várias pessoas em uma só mensagem prós e contras da vida, as vezes é possível num comprometimento e um posicionamento íntegro fornecer exemplos a todos que o assistem. Ser Sacerdote é dirigir pelo comprometimento, pela palavra e pelo exemplo. Ser deficiente em uma dessas questões pode acarretar em desvios difíceis de concertar, logo que não adianta nada alguém dizer ou afirmar coisas que não é capaz de cumprir, ou cumprir e fazer coisas que não é capaz de ensinar. Um Sacerdote que não busca ser mestre em sua função é falho e cabe a quem o assiste perceber se suas características servem ou não para lhes dirigirem.

Ninguém é obrigado a nada na Umbanda, e se por ventura você notou que o exemplo que dão no terreiro não condiz com seus valores e suas concepções, você é livre para sair. Sem conflitos, reverencie o congá e peça licença para que possa dar sequência em sua trajetória existencial na busca de um local atraente a suas idealizações e concepções filosóficas umbandistas fora dali.

Existem inúmeros terreiros sérios, dirigidos por pessoas sérias, com responsabilidades e atividades sublimes. E eles estão espalhados aos montes pelo Brasil executando trabalhos exemplares de caridade, desenvolvimento, ensinamentos e beneficência. Basta ter um pouco de cautela e empenho que você achará um que se enquadre bem naquilo que você procura. Logicamente perceberá que terão regras, direitos e deveres direcionados a você; mas pra tudo na vida, quando queremos alcançar bons resultados precisamos realizar algumas tarefas. Nada vem fácil, e nos caminhos da espiritualidade é assim, para que tudo flua é necessário se empenhar.

Um Sacerdote que leva com seriedade sua missão carrega o peso do compromisso e das responsabilidades por ser alguém que intermedia seus filhos entre os planos espirituais e terrestres. Dessa forma, isso refletirá nos médiuns e cambones que terão também afazeres a cumprir, terão de se empenhar para se enquadrarem dentro dos padrões vibracionais, éticos e doutrinários de uma casa elevada. Para frequentar uma casa elevada, é necessário procurar elevação. Para aprender os ensinamentos de um Sacerdote culto, é necessário procurar se instruir com cultura.  

Não jogue fora a oportunidade de trabalhar em uma casa de Umbanda que leva a sério o que faz, e principalmente que se preocupa com o caminhar de seus filhos. Existem casas e Sacerdotes que assim não fazem, que desvirtuam a essência do que praticamos com suas condutas desequilibradas, mas esses não devem ser a referência para interpretarmos como se todos na Umbanda tivessem esse padrão vibracional. Temos Sacerdotes que são verdadeiros anciãos intelectualmente, que alcançaram uma elevação gigantesca e que são sim a referência para o que idealizamos dentro da religião. Esses, muitas vezes por não serem vaidosos, por não usarem o nome da Umbanda para benefício próprio, podem estar escondidos, fazendo seu trabalho simples em algum lugar surtindo resultados extremos que a olho nu pode passar despercebido.

Mas não se engane... Não caia e nem entre em qualquer terreiro por simples comoção. Tente ser racional nesse momento de escolha.

O conselho que dou a todo irmão que me pergunta sobre o que deve observar antes de entrar para uma corrente de terreiro é essa: Se atentem a conduta dos dirigentes, vejam como lida com filhos e consulentes, como entende a Umbanda e a realidade social que nos envolve, pois só “axé” não é o suficiente para que as coisas fluam. Como em qualquer campo da convivência entre seres humanos, é necessário empenho e esforço, empatia e sabedoria, trata-se de uma construção diária.

Se atentem a esses aspectos e com certeza acharão um lugar bacana para darem sequência as suas jornadas dentro da religião de Umbanda.

Por: Fernando Ribeiro (Pirro D'Obá)

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