Por: Fernando Ribeiro (Pirro D'Obá)
Quanto mais nova uma religião, mais alvo ela se torna em relação a preconceitos, e isso não é diferente com a Umbanda. O budismo quando surgiu sofreu preconceito, o cristianismo quando surgiu sofreu preconceito, o protestantismo quando surgiu sofreu preconceito.
Quanto mais nova uma religião, mais alvo ela se torna em relação a preconceitos, e isso não é diferente com a Umbanda. O budismo quando surgiu sofreu preconceito, o cristianismo quando surgiu sofreu preconceito, o protestantismo quando surgiu sofreu preconceito.
Essa dinâmica se torna ainda mais intensa quando a religião
que nasce utiliza como base alguns elementos de outra religião.
Hibridez das Religiões
O cristianismo surgiu com muitos elementos do judaísmo, o protestantismo surgiu com muitos elementos do catolicismo. Nenhuma religião nasce propriamente alheia, na maioria das vezes ela surge como consequência, ou como ramificação e por isso seu caráter homogêneo, sendo até difícil distinguir onde termina uma religião e começa outra.
No Brasil, a Umbanda nasceu e é tida como uma religião que
carrega elementos de outras religiões. Para o umbandista isso é bem claro, e é
fácil para ele entender as influências que sua religião recebeu do catolicismo,
do espiritismo, do candomblé, dos cultos indígenas. Um pouco de pesquisa e
estudo e logo nos localizamos frente ao contexto social da Umbanda.
Porém, falamos muito sobre a ciência de nós umbandistas a
respeito da nossa própria formação religiosa, cobramos muito de nós mesmos para
que entendamos as complexidades e as pluralidades existentes. Umbanda Branca,
Sagrada, Universalista, de Jurema, Omolokô, Esotérica. São diversas vertentes
para entendermos e respeitarmos.
Tipos de mentalidade na Umbanda
Ainda é complicado que todos os irmãos respeitem as ramificações e as diversidades de cultos e doutrinas. Entender, aceitar e respeitar que em alguns lugares cultua-se as 7 linhas através de Santos, e em outros lugares Orixás; que em alguns lugares trabalha-se com curimba e em outros sem, que em alguns lugares estuda-se a espiritualidade através do kardecismo, em outros dá-se ênfase a costumes xamânicos, em outros adota-se um caráter mais oriental e em outros mais africanizados... as diferenças estão sempre presentes e o que para uns trata-se de uma manifestação positiva, para outros nem tanto.
Isso se dá pelo fato do ser humano possuir duas diferentes
maneiras de olhar para o mundo. Uns olham pela perspectiva da
"escassez", e outros pela perspectiva da "profusão".
Para mentalidades que possuem a ótica da escassez o mundo
está preso a um número limitado de possibilidades. É difícil para esse perfil perceber
a dinâmica religiosa e aceitar que ela a cada dia se transforma.
Para mentalidades que possuem a ótica da profusão o mundo
está em constante alternância e as possibilidades são infinitas. Para esse
perfil, a religião e suas transformações é algo natural e benéfico.
Para alguns, a discussão referente as 7 linhas da Umbanda se
dá pelo ponto de “qual é a verdadeira doutrina das 7 linhas?”; e para outros,
esse debate se dá em entender “quais são as variadas doutrinas existentes das 7
linhas?”.
Discussões na Umbanda
O que é mais construtivo e benéfico para a Umbanda? Discutir qual é a doutrina verdadeira ou buscar estudar a respeito das diferentes formas de culto dentro dela?
A resposta que você tiver para essa pergunta dirá muito
sobre o umbandista que você é.
O fato da Umbanda ser uma religião nova, faz com que
possamos olhar para exemplos de religiões mais antigas, seus conflitos, seus
problemas. Os moralismos históricos do catolicismo, os fundamentalismos do
protestantismo. Podemos vê-los como resultado do não entendimento e a não
aceitação das diferenças. Mentalidades conservadoras, que interpretaram o mundo
pela ótica da escassez fizeram morada nessas doutrinas.
Na Umbanda, vemos figuras que adotam esse tipo de perspectiva diante dos fatos, dos estudos. Mentalidades que adotam um discurso conservador e que possuem dificuldade de olhar para Umbanda como algo infinito e amplo.
"O problema da Umbanda desde o seu nascimento nunca foi a Umbanda, mas sim o umbandista".
Hoje, sabemos que o maior bloqueio da Umbanda está no perfil
psicológico do religioso que a segue. Quando esse religioso tem a configuração
mental da escassez ele insurge nos debates acusando outras doutrinas de
levianas, categoriza "códigos" e qualquer coisa que se apresente como
destoante do que ele propõe como verdade, aponta o dedo, discute, mergulha numa
conduta adoentada de tocar a espiritualidade.
Mas, a proposta da Umbanda nunca foi ela mesma se apresentar
como verdade última das coisas, mas sim ela estender as mãos para o mundo e
suas inflamações crônicas, estender as mãos para os seres que estão mergulhados
nas mazelas dessa dimensão e que precisam urgentemente de luz, carinho e
fraternidade.
Desafio mental dos Umbandistas
O maior desafio do umbandista é abrir a mente, desapegar de suas pequenas certezas e se permitir olhar o planeta e o universo pela ótica da profusão, da infinitude. Fazer uma transformação mental a respeito da sua relação com o sagrado e a sua relação social.
O planeta Terra não é um planeta de escassez, a escassez
surgiu pela forma de organização social e geográfica que o homem criou ao longo
das eras. O planeta Terra é um lugar de abundância e o homem pode demorar uma
vida para entender isso. A mesma coisa se dá na Umbanda, que é uma religião de
abundância, mas que na argumentação de pessoas pautadas na perspectiva de
escassez, pode aparentar ser uma religião fria, cheia de pequenas certezas, de
discursos moralistas. Tudo ao contrário do que ela verdadeiramente representa,
Amor, Caridade e Fraternidade em abundância, muita abundância, uma profusão
transformadora do mundo e dos seres.