3 de ago. de 2018

A História de Orixá Mallet


No cenário da estruturação da Umbanda no Brasil, o espírito Orixá Mallet foi um dos importantes espíritos designados para esta missão, e desceu em terra pela Umbanda em 1913, cinco anos após o Caboclo Sete Encruzilhadas ter se manifestado, e por sua vez, o Caboclo Canguruçu, de quem pouco se tem noticia, mas sabe-se que era um caboclo curador, manifestava-se no seculo XIX , na região norte do país, ladrilhando os caminhos que dali em diante seriam traçados.


A Umbanda trazida pelo Sr. Zélio, foi como uma nova versão da 3ª Revelação, uma estratégia da espiritualidade nos despertar para a mensagem de Amor e Paz como caminho iluminativo. O Espiritismo havia descambado para o intelectualismo excessivo e a Espiritualidade tinha pressa em promover o saneamento das almas e a pacificação dos sofrimentos e desigualdades seculares, trazidos pelas guerras, atrocidades, escravidão.

Veio a Umbanda, diferente do Espiritismo, por ter um vigor atuante, chamar à razão e à responsabilidade de cada um, sem sombra de paternalismo, sem dogmas de processos infernais ou paradisíacos, senão um cumprimento da Lei Maior.

Com o surgimento do espírito Orixá Mallet, rapidamente ele alcançou lugar destacado no panteão da Umbanda, passando a trabalhar nos trabalhos de desmanche e magia, e sendo respeitado pelas outras entidades do Sr. Zélio, o Pai Antônio e o próprio Caboclo das Sete Encruzilhadas. Trabalhava com animais em seus trabalhos, mas os mantinham vivos. De um “temperamento” forte, tanto podia promover materializações de borboletas, proteger pombas, como atirar pedras em médiuns, como o fez na cachoeira, e inusitadamente carregar por meio quilometro até a linha da água do mar, o Sr. Benjamim Figueiredo, que depois disso abriu a Tenda Mirim.

O Irmão Cláudio Zeus, explica em um estudo sobre a Umbanda Branca e Demanda, da época onde são relatados os feitos do espírito Orixá Mallet, que considerava-se orixá uma entidade de hierarquia superior e que representava, em missões especiais, de prazo variável, o alto chefe de sua linha.

Cláudio Zeus relata que na linha de pensamento desta Umbanda Original, os Orixás eram espíritos humanos com certas peculiaridades em essência e não elementos ou elementais da Natureza, e sequer ancestrais divinizados, conceito este que se estende até hoje em boa parte das Umbandas não africanizadas. Mas essas considerações poderão ser desenvolvidas em um outro estudo, tão extenso se tornou, devido as nuances variadas que a Umbanda hoje manifesta, tanto pela evolução do pensamento, como pelas vivências ocorridas, consequentemente à sua constante expansão, desde estas primeiras histórias aqui relatadas.

Leal de Souza, em seu livro, relata que em uma reunião fechada, com cerca de 20 pessoas, o espírito Orixá Mallet começou a traçar pontos no chão, e levou a mão até eles, e dali se materializaram duas borboletas amarelas, em seguida tocou a mão do próprio Leal de Souza depositando ali a terceira borboleta, dizendo que ele veria a borboleta ao chegar em sua casa, e também em seu trabalho. E assim foi, chegando tarde da noite dos trabalhos mediúnicos, encontrou a borboleta amarela em casa, e no dia seguinte, dentro do local onde trabalhava, seus colegas, surpresos, constataram que uma borboleta amarela pousava sobre sua cabeça.

Mais adiante, na mesma obra, há o relato que o autor se dirigiu ao Rio Macacu, no município de Cachoeiras de Macacu, levando duas pombas brancas, segundo fora solicitado, ao chegar lá, o espírito Orixá Mallet riscou um ponto no chão e as aves ficaram como que imantadas ao local. Depois disso, o espírito comentou que os animais não suportariam a carga que estavam sendo movimentadas, e enviou as pombas até a outra margem, e lá elas ficaram, até o final do trabalho, quando então voltaram por sua vontade, sãs e salvas.

Sobre o episódio da pedra o que ocorreu foi o seguinte:

“João Severino Ramos, dirigente da Tenda São Jorge (mais uma das tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas) ao fazer sua primeira visita a Zélio em Cachoeiras de Macacu, se mostrava cético e incrédulo, pedindo provas para crer.
O Orixá Mallet (da vibração de Ogum) pegou uma pedra à beira do rio e acertou bem no meio da testa de Severino que caiu dentro das águas. A entidade proibiu os amigos de socorrê-lo e pediu que esperassem; minutos depois Severino atravessou as margens do Rio Macacu já incorporado de Ogun Timbiri, com quem trabalharia na Tenda São Jorge".


Sob a irradiação de Ogum, coincidentemente com a atuação e influência do espírito Orixá Mallet, também em terra se manifestou o Sr Marabaroô, exu da coroa do Sr. Zélio, que era cuidado por dona Zilca , irmã do Sr. Zélio e daí em diante a linha de trabalho dos Exus se efetivou de maneira discreta nas Tendas, e aos poucos foram se manifestando mais entidades desta linha chamada de "esquerda", até que hoje há giras só para seu trabalho, mas isso não ocorre na T.E.N.S.P. 

Nesta Tenda, independentemente de que gira esteja e precise do trabalho de Exu, estes espíritos descem (sempre em médiuns mais antigos da Tenda) fazem o que tem que fazer e nem mesmo o assistente percebe que foi cuidado por um Exu, quanto mais o público presente. Diferente  do que muitos falam na T.E.N.S.P. existem sim giras de Exus, mas estas são fechadas para o público.

Pai Antônio, que demonstrou desde logo a humildade e candidez característica da Linha de trabalho dos Pretos Velhos, seguiria sua missão de sábio curador, além de encantar a todos e mostrar ao mundo do início de 1900 que as correntes estavam verdadeiramente quebradas, que um mundo novo, livre e igualitário tinha de surgir por toda parte, e que a vibração de um preto velho tinha também direito e Luz suficientes para estar presente tanto qualquer outra, nas searas da manifestação do espírito para a Caridade.


(Fonte: Revista Espiritual de Umbanda – Nº 08)



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