19 de set. de 2017

A Umbanda e a Homossexualidade


Recentemente, em alguns sites e em alguns encontros, pairou sobre a nossa comunidade umbandista o debate, já realizado diversas outras vezes, sobre o homossexualidade, em especial sobre a possibilidade da celebração do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Umbanda, ou como preferem alguns se a Umbanda poderia, ou deveria, abençoar estes relacionamentos.


Antes de falarmos de casamento é preciso compreender, ou buscar entender, como a Umbanda vê as questões do homossexualidade.

Quando falamos de homossexualidade imediatamente as mentes reduzem a questão a seus aspectos sexuais, ou seja, pessoas do mesmo sexo realizando práticas sexuais. Mas, a questão da opção sexual vai muito além da simples relação sexual, do coito propriamente dito.

A questão envolve a afetividade, a relação de atração, de amor a outra pessoa com a qual queremos nos relacionar, queremos construir uma vida em conjunto. É o amor conjugal, a que estamos nos referindo.

A questão começa ao pensarmos como vemos os espíritos. O espírito tem sexo? Nascemos um espírito masculino ou feminino? Em nossas inúmeras reencarnações sempre vestimos a carne com o mesmo sexo biológico?

Eu penso que reencarnamos em diversas roupagens materiais, hora em uma roupa biologicamente masculina, hora em uma biologicamente feminina. Entretanto, temos uma maior tendência em reencarnarmos em determinada roupagem.

Então será que quando reencarnamos na roupagem adversa ao nosso costume acabamos por sentir atração pelo mesmo sexo? Será esta a razão da homossexualidade? Os muitos espíritas (kardecistas) que conheço, e assim fui ensinado quando espírita, entendem que a homossexualidade é, entre outras teorias, como uma inversão dolorosa do sexo, ou seja, aquele espírito que teve inúmeras reencarnações como homem, e hoje encontra-se em um corpo de mulher teria atrações por outras mulheres. Apesar de simplificar esta definição, acredito que a tenha feito de forma apropriada, caso contrário por favor sintam-se a vontade em questioná-la.

Hoje já não tenho esta convicção. Acredito que estas questões sexuais, de opção sexual, estão muito atreladas a nossa cultura, aos nossos costumes. Na Grécia antiga muitos afirmavam que o único amor verdadeiro era o praticado entre os homens, as mulheres eram apenas procriadoras. Neste cenário todos os homens eram espíritos de mulheres em inversões dolorosas sexuais? Acredito que não.

Quando as pessoas julgam e tecem comentários sobre a homossexualidade acabam por gerá-los em função da prática sexual, como dissemos acima. Ou seja, como se o a homoafetividade fosse algo feio porque dois homens ou duas mulheres buscam trocar carícias, buscam o prazer entre si.

Vejamos então a seguinte sentença: O sexo é para a procriação? O sexo é para a geração de filhos exclusivamente?
A resposta será não! O sexo, a relação sexual, quando feita com respeito pelo parceiro ou parceira, com amor, é uma relação que busca a troca de energias, de carícias, de prazer e também de sentimentos. Se o sexo tem esta natureza qual a diferença em ter uma relação com uma pessoa do mesmo sexo ou de sexo oposto? Na minha opinião, a diferença está na opção da pessoa, na natureza daquele espírito reencarnado que sente atração por este ou por aquele sexo.

Não estamos aqui falando de promiscuidade, de bacanais, etc., pois isto, independente se homossexuais ou se heterossexuais é uma prática que diminui a vibração, que traz obsessores e nos prende aos prazeres materiais, enfim, nos fragiliza e nos prejudica. Estamos aqui falando das relações que envolvem o sentimento do amor conjugal.

Assim, o que eu entendo é que não importa a sua opção sexual, não importa se você é um heterossexual ou um homossexual, o que importa é a tua vontade em seguir os passos de Jesus, de praticar a caridade, de amar toda a forma de vida, de buscar o fim do seu egoísmo, do seu orgulho, de sua raiva e de seu ódio. Importa que seu espírito trabalhe incansavelmente para a libertação própria e a iluminação de todos que lhe rodeiam.

Se você ama (no sentido conjugal, matrimonial do verbo) uma pessoa do mesmo sexo, ou uma pessoa do sexo oposto, deve apreciar este sentimento, deve ter com ele ou com ela uma relação de companheirismo. Buscar nesta pessoa aquela que dividirá com você as angústias e as alegrias da vida. Deus nos permite o casamento para isto; para trilharmos um caminho com outro espírito.

Ou seja, para mim, a Umbanda realiza os matrimônios, abençoa as relações não com a exclusiva intenção de colocar um macho e uma fêmea para procriarem, mas o faz para que dois espíritos possam, a partir daquele momento, dividir um só caminho. Como disse o Caboclo Mata Virgem em recente casamento em nossa casa:

“Até aqui vocês caminharam por caminhos próprios, estes caminhos se aproximaram, e hoje se unem. O que eram dois caminhos se torne um, o que eram duas chamas se torne uma.”

O matrimônio é um ato de amor, de união de espíritos para a consecução de seus objetivos com companheirismo. E é assim independente de um casamento hetero ou homoafetivo.

Neste sentido o nosso querido Preto-velho, Pai Tobias de Guiné, em recente consulta teceu o seguinte comentário:

“Vocês não param de ficar apegados a forma, ficam sempre querendo julgar um rio pela sua superfície. Dois espíritos se amam e querem compartilhar um mesmo caminho de vida, chegam a este terreiro e pedem uma benção, pedem para que realizemos seu casamento. Qual será a resposta?
 Respondemos pelos espíritos ali presentes, ou vamos responder de acordo com a roupa que estão usando naquele momento? Para nós, falangeiros da Umbanda, não interessa a roupa, ou seja o corpo físico, interessa se estes espíritos se amam
de verdade. Quando percebo isto, o amor, fico grato a Zambi, aos Orixás, por poder presenciar e atuar na benção deste casal.”

A homofobia e o preconceito pela opção sexual só atrasam a vida de todos, só trazem desarmonia, vibrações de ódio, e não de amor e de caridade.

Será que há qualquer justificativa espiritual para este tipo de preconceito?
Assim, a opção sexual, o fato de sermos homoafetivos (homossexuais), ou heteroafetivos (heterossexuais), não faz de nós diferentes, certos ou errados, pecadores ou não pecadores. O que nos torna melhores ou piores é o que fazemos em relação à vida, em relação às pessoas, em relação aos espíritos e a nós mesmos, ou seja, quão orgulhosos, quão egoístas, quão amorosos e caridosos nós somos. Isto é o que revela a nossa natureza e não as formas, e não as aparências.

Por fim quero fazer uma última reflexão:
Na época em que Jesus viveu encarnado o pior de todos os pecados era a da mulher adúltera, ou seja, a mulher que traia o homem. Para esta mulher a condenação era o apedrejamento em praça pública, e isto esta escrito na Bíblia (antigo testamento).

O que Jesus fez ao ver uma mulher adúltera sendo apedrejada? Levantou-a, e olhou para a multidão de julgadores e disse: 

“atire a primeira pedra aquele que nunca pecou”

Ou seja, mesmo diante do maior pecado para seu povo, Jesus afirmou que jamais devemos julgar o nosso irmão ou nossa irmã. Com isso quero dizer que não interessa como você pensa a questão, se você concorda comigo, com a Umbanda, com os espíritas, com os demais cristãos, importa que pense como pensar, jamais julgue o seu semelhante, jamais se preocupe com o argueiro no olho do teu vizinho, e sim com a trave que cega a sua visão.

Jesus nos ensinou a amar incondicionalmente, amar a todos, até nossos inimigos, nossos queridos guias também ensinam isto para nós diariamente, vamos então praticar o amor incondicional. Ou seja, convencido da naturalidade das relações homossexuais, ou não, o que não podemos aceitar é que os umbandistas julguem, discriminem.

A Umbanda, para mim, não julga e não vê de forma anormal a homossexualidade, ou a heterossexualidade. Se esta pessoa é homo ou heterossexual, pouco importa, pois, todos somos espíritos iguais, filhos do mesmo pai, com livre arbítrio.
Para mim a Umbanda está preocupada e focada na elevação espiritual, na prática da caridade e no exercício do amor.

Assim, para mim e para a Umbanda que pratico, o casamento, o matrimônio, ou a benção de casais acontece em virtude do amor conjugal, da parceria e do companheirismo, por isto, seja ele um casamento de pessoas do mesmo sexo ou de sexos biológicos diferentes, acredito que a benção, o sacramento pode e deve ser realizado.

Saravá a Umbanda, saravá o respeito e o amor entre todos os seres.



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