Etimologicamente, a palavra “presságio” se originou do latim
“praesagium”, que pode ser interpretado como “agouro”, “pressentimento” ou
“conhecimento antecipado de algo”.
Popularmente, os presságios costumam representar sinais de acontecimentos que ocorrerão na vida das pessoas no futuro. Entre alguns dos principais sinônimos de presságio, destaca-se o augúrio, o prenúncio, a previsão, a profecia, o prognóstico, a intuição.
Quando se prevê situações afortunadas e positivas, diz-se
que se trata de um “bom presságio”, caso contrário (desgraças e azar) a
intuição é definida como um “mau presságio”.
O presságio destaca-se como uma sensação intuitiva e alheia
a respeito de alguma causa conhecida, que leva a previsão de acontecimentos que
poderão vir a ocorrer no futuro. É em si uma capacidade que algumas pessoas têm
de suspeitar, por um instinto particular algum fato que pode vir a
acontecer.
Na psicologia analítica de Carl Gustav Jung, o presságio
aparece como sinônimo de intuição. Ou seja, não como um fenômeno isolado, mas
sim como componente dentro da estrutura psíquica do homem. Ele definiu o
fenômeno de intuição como umas das quatro funções psicológicas.
Resumidamente, as funções psicológicas catalogadas por Jung,
são: sensação, pensamento, sentimento e por fim a intuição. Essas quatro
funções são orientadoras da consciência em relação ao mundo, são formas de
manifestação da energia psíquica. São como bussolas que nos norteiam em nossa
caminhada.
A sensação nos diz que algo existe,
O pensamento nos diz o que é esse algo,
O sentimento dá valor e um propósito
E a intuição nos mostra as possibilidades do que fazer com esse algo.
Embora todo mundo tenha as quatro funções, elas não são
desenvolvidas em sua totalidade. Geralmente uma delas é predominante na
consciência, e é chamada de “função superior”, e uma entre as três restantes
pode agir como auxiliar da função superior. Em caso de “pane” da principal,
entra automaticamente em cena a outra. A menos usada das quatro funções é
chamada de “função inferior”, que fica reprimida, relegada ao mais profundo do
inconsciente.
Existem pessoas que são mais voltadas a sensação, que tem um
enfoque na experiência direta. São apegadas naquilo que podem ver, tocar,
cheirar. Tem facilidade em dominar instrumentos que necessitam dos sentidos
para manuseio, como por exemplo instrumentos musicais.
Existem pessoas que são mais voltadas ao pensamento, que são
grandes planejadoras de projetos e situações, tendem a se agarrar a seus planos
e teorias, ainda que sejam confrontados com evidências de sua contradição.
Existem pessoas que são mais voltadas aos sentimentos, que
primam por emoções fortes e intensas (ainda que negativas). Fazem seus julgamentos
com base em seus próprios valores, como por exemplo se é bom ou mau, certo ou
errado, agradável ou desagradável.
E existem as pessoas que são voltadas a intuição, que vão
além dos fatos, sentimentos e ideias, que estão em constante busca da essência
das coisas. As implicações das experiências são mais importantes para os
intuitivos do que a experiência em si. Dão significados as suas percepções com
tamanha rapidez que, via de regra, não conseguem separar suas interpretações
conscientes dos dados sensoriais brutos obtidos
O pensamento e o sentimento (como funções psicológicas)
fazem extremo uso da razão, do juízo, da abstração e da generalização. Já a
sensação e a intuição se distanciam do processo racional por serem baseadas na
percepção do concreto, do particular e do acidental.
O pensamento é ideacional e intelectual, o sentimento mede a
prioridade das coisas para o sujeito, a sensação traz percepção da realidade e
representações do mundo, e a intuição é responsável por trazer possibilidades,
orientação para o futuro, e o faro, o sexto sentido, a percepção
extra-sensorial, o “presságio”.
“A intuição fornece, em primeiro lugar, apenas imagens e ou impressões de relações e condições que não podem ser conseguidas através de outras funções, ou só podem após muitos rodeios.” Jung
Intuição vem do latim, “intueri”, que significa olhar, ver...
Pessoas intuitivas agem de forma generalista, não conseguem
enxergar os detalhes. Questionam, incitam, participam ativamente de revoluções,
uma vez que nunca se encontram em consonância ao “status quo”.
Pessoas intuitivas são estimuladoras da mente dos demais,
pois estão sempre em busca de coisas novas. Encontramos esse tipo psicológico
entre grandes oradores, nos gênios incompreendidos, nos místicos, nos profetas,
nos artistas.
O intuitivo, principalmente o introvertido, pode prever
novas possibilidades advindas do inconsciente coletivo, podendo prever até o
que poderá vir acontecer. Indo além dos fatos da realidade e enxergando as
possibilidades das situações e coisas, a intuição se torna a grande
"solucionadora" de problemas.
O intuitivo vive cada vez mais distante da realidade
cotidiana. Além disso, ele não tem a menor consciência de sua existência
corporal nem de sua influência sobre os outros, pois despreza o objeto.
Considerada como o “sexto sentido por muitos”, a intuição é
um atributo inerente a todos os indivíduos. Embora se tenha a ideia de que ela
é mais feminina do que masculina, ambos os sexos a tem igualmente. Não é um dom
místico, uma inspiração divina ligada a qualquer religião. Todos nós somos
capazes de tê-la ou até desenvolvê-la independente da cultura a qual estamos
inseridos.
A Intuição pode ser definida como um conhecimento que surge
sem o uso da lógica ou da razão, ou ainda, um conhecimento que queima etapas,
que tem facilidade de assimilar a totalidade dos processos que compõem o mundo
e o universo.
Para a intuição não é necessário se conhecer todas as
premissas, para se chegar a uma conclusão. Aquilo brota na consciência, sem
dúvidas ou subterfúgios. Pode aparecer sob a forma de sonhos, sensações,
conhecimento puro, insights ou explosões de criatividade etc… Como flashes que
alertam sobre o perigo e indicam a saída mais propicia para algum impasse.
Na filosofia grega Platão fala da intuição como método
filosófico por excelência. Segundo a dialética platônica, primeiramente temos a
Intuição de uma ideia (Intuição primária) e num segundo momento, fazemos um
esforço crítico para esclarecê-la (Intuição propriamente dita).
Segundo Descartes, existiriam três métodos: o pré-intuitivo,
que tem o objetivo de alavancar a Intuição; o analítico que leva à Intuição e o
intuitivo propriamente dito, método primordial da filosofia.
Assim definido, vemos que a intuição é uma dinâmica que o
ser humano carrega (em maior ou menor grau) em sua constituição natural, uma
forma de estar no mundo, e que em lapsos é capaz de simbolizar determinados
processos. Jung dizia que esses símbolos já estão adormecidos em nossa mente
através da evolução, onde as gerações vão deixando como herança um depósito de
experiências dentro de nossa genealogia inconsciente.
Presságios surgem em eventos cotidianos ou em sonhos como
manifestações de nossa constituição intuitiva, uma habilidade que alguns seres
humanos têm de exteriorizar e representar contextos sem uma explicação
racional, mas que para Jung, estaria no inconsciente coletivo a resposta, pois é
desse depositário de imagens inconscientes que surgem respostas e mensagens
geradas a todo momento por nossa psique. Esse oceano que encontramos presentes
em cada ser humano tem uma mensagem hereditária para passar. Alguns expressam
através da ação, outros através da contemplação, cada um ao seu modo pressagia
o futuro.
Presságios claros são comuns e rotineiros quando nosso ser
pende a intuição como mediadora das coisas relacionadas a nossa vida. Muitos
tentam descredenciar o presságio como uma neurose apenas, porém, desde os
primórdios temos seres humanos que captam mensagens de seus processos
inconscientes e trazem à luz da intuição perspectivas a respeito de um futuro
próximo. E isso foi responsável por diversas alterações em nossa evolução como
espécie.
A capacidade de intuir e pressagiar nos deu o poder de
captar o perigo, de buscar o conforto, de escolher lados mais adaptáveis diante
de escolhas que poderiam levar a espécie humana a ruínas.
Vivemos uma era de racionalidade, onde a razão é colocada
como o pendor das situações que envolvem a humanidade. Muitos acham que ao
utilizar a razão é possível chegar as respostas definitivas das coisas. Porém,
é por conta dessa negligência do homem em relação a sua intuição que temos
tantas convicções no mundo, tantos radicalismos, tanta arbitrariedade e
dificuldade em entender a totalidade das coisas.
Na própria Umbanda, temos pessoas que se dispõem a estudar a
teologia umbandista tendo apenas a luz da razão como premissa, e isso só faz
gerar abordagens fundamentalistas que não levam em conta nuances variáveis e
plásticas da religião.
Porém, sobre tudo, todavia.... o presságio ainda convive
entre nós, pode estar adormecido entre seres humanos que transitam em uma
sociedade movida pelo capital e a busca por riquezas pragmáticas, mas de quando
em vez, ou até com determinada frequência trazemos sim nossos presságios a
superfície, fazemos escolhas baseadas nessas intuições, pois nem só de razão
sobrevive o homem, é necessário um pouco de loucura em nossa “sanidade”.
O presságio faz bem a saúde, é uma descarga elétrica de
nosso ser pensante, que percebe, que sente, que intui... O presságio é o
resultado da conexão que um ser humano tem com a totalidade das coisas.
“Até o ponto que podemos compreender, o único propósito da existência humana é acender a luz do sentido na escuridão do mero ser” Jung
Referências:
- A intuição – Hellen Reis Mourão (cafecomjung.blogspot.com.br)
- Intuição; o inexplicável no dia a dia – Adriana Tanese Nogueira (psicologiadialetica.com)
- Carl Jung Reloaded – Acid (somostodosum.ig.com.br)
- O Homem e seus Símbolos – Carl Gustav Jung