26 de mai. de 2017

Presságio - Por: Pirro D'Obá

Intuição
Etimologicamente, a palavra “presságio” se originou do latim “praesagium”, que pode ser interpretado como “agouro”, “pressentimento” ou “conhecimento antecipado de algo”.

Popularmente, os presságios costumam representar sinais de acontecimentos que ocorrerão na vida das pessoas no futuro. Entre alguns dos principais sinônimos de presságio, destaca-se o augúrio, o prenúncio, a previsão, a profecia, o prognóstico, a intuição.



Quando se prevê situações afortunadas e positivas, diz-se que se trata de um “bom presságio”, caso contrário (desgraças e azar) a intuição é definida como um “mau presságio”.

O presságio destaca-se como uma sensação intuitiva e alheia a respeito de alguma causa conhecida, que leva a previsão de acontecimentos que poderão vir a ocorrer no futuro. É em si uma capacidade que algumas pessoas têm de suspeitar, por um instinto particular algum fato que pode vir a acontecer. 

Na psicologia analítica de Carl Gustav Jung, o presságio aparece como sinônimo de intuição. Ou seja, não como um fenômeno isolado, mas sim como componente dentro da estrutura psíquica do homem. Ele definiu o fenômeno de intuição como umas das quatro funções psicológicas.

Resumidamente, as funções psicológicas catalogadas por Jung, são: sensação, pensamento, sentimento e por fim a intuição. Essas quatro funções são orientadoras da consciência em relação ao mundo, são formas de manifestação da energia psíquica. São como bussolas que nos norteiam em nossa caminhada.

A sensação nos diz que algo existe,

O pensamento nos diz o que é esse algo,

O sentimento dá valor e um propósito

E a intuição nos mostra as possibilidades do que fazer com esse algo.


Embora todo mundo tenha as quatro funções, elas não são desenvolvidas em sua totalidade. Geralmente uma delas é predominante na consciência, e é chamada de “função superior”, e uma entre as três restantes pode agir como auxiliar da função superior. Em caso de “pane” da principal, entra automaticamente em cena a outra. A menos usada das quatro funções é chamada de “função inferior”, que fica reprimida, relegada ao mais profundo do inconsciente.

Existem pessoas que são mais voltadas a sensação, que tem um enfoque na experiência direta. São apegadas naquilo que podem ver, tocar, cheirar. Tem facilidade em dominar instrumentos que necessitam dos sentidos para manuseio, como por exemplo instrumentos musicais.

Existem pessoas que são mais voltadas ao pensamento, que são grandes planejadoras de projetos e situações, tendem a se agarrar a seus planos e teorias, ainda que sejam confrontados com evidências de sua contradição.

Existem pessoas que são mais voltadas aos sentimentos, que primam por emoções fortes e intensas (ainda que negativas). Fazem seus julgamentos com base em seus próprios valores, como por exemplo se é bom ou mau, certo ou errado, agradável ou desagradável.

E existem as pessoas que são voltadas a intuição, que vão além dos fatos, sentimentos e ideias, que estão em constante busca da essência das coisas. As implicações das experiências são mais importantes para os intuitivos do que a experiência em si. Dão significados as suas percepções com tamanha rapidez que, via de regra, não conseguem separar suas interpretações conscientes dos dados sensoriais brutos obtidos

O pensamento e o sentimento (como funções psicológicas) fazem extremo uso da razão, do juízo, da abstração e da generalização. Já a sensação e a intuição se distanciam do processo racional por serem baseadas na percepção do concreto, do particular e do acidental.

O pensamento é ideacional e intelectual, o sentimento mede a prioridade das coisas para o sujeito, a sensação traz percepção da realidade e representações do mundo, e a intuição é responsável por trazer possibilidades, orientação para o futuro, e o faro, o sexto sentido, a percepção extra-sensorial, o “presságio”.

“A intuição fornece, em primeiro lugar, apenas imagens e ou impressões de relações e condições que não podem ser conseguidas através de outras funções, ou só podem após muitos rodeios.” Jung

Intuição vem do latim, “intueri”, que significa olhar, ver...

Pessoas intuitivas agem de forma generalista, não conseguem enxergar os detalhes. Questionam, incitam, participam ativamente de revoluções, uma vez que nunca se encontram em consonância ao “status quo”.

Pessoas intuitivas são estimuladoras da mente dos demais, pois estão sempre em busca de coisas novas. Encontramos esse tipo psicológico entre grandes oradores, nos gênios incompreendidos, nos místicos, nos profetas, nos artistas.

O intuitivo, principalmente o introvertido, pode prever novas possibilidades advindas do inconsciente coletivo, podendo prever até o que poderá vir acontecer. Indo além dos fatos da realidade e enxergando as possibilidades das situações e coisas, a intuição se torna a grande "solucionadora" de problemas.

O intuitivo vive cada vez mais distante da realidade cotidiana. Além disso, ele não tem a menor consciência de sua existência corporal nem de sua influência sobre os outros, pois despreza o objeto.

Considerada como o “sexto sentido por muitos”, a intuição é um atributo inerente a todos os indivíduos. Embora se tenha a ideia de que ela é mais feminina do que masculina, ambos os sexos a tem igualmente. Não é um dom místico, uma inspiração divina ligada a qualquer religião. Todos nós somos capazes de tê-la ou até desenvolvê-la independente da cultura a qual estamos inseridos.

A Intuição pode ser definida como um conhecimento que surge sem o uso da lógica ou da razão, ou ainda, um conhecimento que queima etapas, que tem facilidade de assimilar a totalidade dos processos que compõem o mundo e o universo.

Para a intuição não é necessário se conhecer todas as premissas, para se chegar a uma conclusão. Aquilo brota na consciência, sem dúvidas ou subterfúgios. Pode aparecer sob a forma de sonhos, sensações, conhecimento puro, insights ou explosões de criatividade etc… Como flashes que alertam sobre o perigo e indicam a saída mais propicia para algum impasse.

Na filosofia grega Platão fala da intuição como método filosófico por excelência. Segundo a dialética platônica, primeiramente temos a Intuição de uma ideia (Intuição primária) e num segundo momento, fazemos um esforço crítico para esclarecê-la (Intuição propriamente dita).

Segundo Descartes, existiriam três métodos: o pré-intuitivo, que tem o objetivo de alavancar a Intuição; o analítico que leva à Intuição e o intuitivo propriamente dito, método primordial da filosofia.

Assim definido, vemos que a intuição é uma dinâmica que o ser humano carrega (em maior ou menor grau) em sua constituição natural, uma forma de estar no mundo, e que em lapsos é capaz de simbolizar determinados processos. Jung dizia que esses símbolos já estão adormecidos em nossa mente através da evolução, onde as gerações vão deixando como herança um depósito de experiências dentro de nossa genealogia inconsciente.

Presságios surgem em eventos cotidianos ou em sonhos como manifestações de nossa constituição intuitiva, uma habilidade que alguns seres humanos têm de exteriorizar e representar contextos sem uma explicação racional, mas que para Jung, estaria no inconsciente coletivo a resposta, pois é desse depositário de imagens inconscientes que surgem respostas e mensagens geradas a todo momento por nossa psique. Esse oceano que encontramos presentes em cada ser humano tem uma mensagem hereditária para passar. Alguns expressam através da ação, outros através da contemplação, cada um ao seu modo pressagia o futuro.

Presságios claros são comuns e rotineiros quando nosso ser pende a intuição como mediadora das coisas relacionadas a nossa vida. Muitos tentam descredenciar o presságio como uma neurose apenas, porém, desde os primórdios temos seres humanos que captam mensagens de seus processos inconscientes e trazem à luz da intuição perspectivas a respeito de um futuro próximo. E isso foi responsável por diversas alterações em nossa evolução como espécie.

A capacidade de intuir e pressagiar nos deu o poder de captar o perigo, de buscar o conforto, de escolher lados mais adaptáveis diante de escolhas que poderiam levar a espécie humana a ruínas.

Vivemos uma era de racionalidade, onde a razão é colocada como o pendor das situações que envolvem a humanidade. Muitos acham que ao utilizar a razão é possível chegar as respostas definitivas das coisas. Porém, é por conta dessa negligência do homem em relação a sua intuição que temos tantas convicções no mundo, tantos radicalismos, tanta arbitrariedade e dificuldade em entender a totalidade das coisas.

Na própria Umbanda, temos pessoas que se dispõem a estudar a teologia umbandista tendo apenas a luz da razão como premissa, e isso só faz gerar abordagens fundamentalistas que não levam em conta nuances variáveis e plásticas da religião.

Porém, sobre tudo, todavia.... o presságio ainda convive entre nós, pode estar adormecido entre seres humanos que transitam em uma sociedade movida pelo capital e a busca por riquezas pragmáticas, mas de quando em vez, ou até com determinada frequência trazemos sim nossos presságios a superfície, fazemos escolhas baseadas nessas intuições, pois nem só de razão sobrevive o homem, é necessário um pouco de loucura em nossa “sanidade”.

O presságio faz bem a saúde, é uma descarga elétrica de nosso ser pensante, que percebe, que sente, que intui... O presságio é o resultado da conexão que um ser humano tem com a totalidade das coisas. 
“Até o ponto que podemos compreender, o único propósito da existência humana é acender a luz do sentido na escuridão do mero ser” Jung

Referências:
  • A intuição – Hellen Reis Mourão (cafecomjung.blogspot.com.br)
  • Intuição; o inexplicável no dia a dia – Adriana Tanese Nogueira (psicologiadialetica.com)
  • Carl Jung Reloaded – Acid (somostodosum.ig.com.br)
  • O Homem e seus Símbolos – Carl Gustav Jung 


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