Quando falamos em mídias sociais, em qualquer ramo, temos que analisar diversos fatores para conseguirmos tirar um substrato dialético que possa trazer luz a algumas questões. A princípio, as mídias sociais surgiram como ferramenta de
interação com foco primário num cenário “egocêntrico”, onde os indivíduos
dividiam e compartilhavam conexões de suas vidas (seus gostos, seus ideais,
suas perspectivas) e suas rotinas de um modo geral.
Num segundo momento, as
mídias sociais começaram a sofrer uma transformação “sociocêntrica” e
apresentar critérios onde indivíduos dividem o mesmo espaço com outras
estruturas de conexão, como marcas e organizações.
O processo de compartilhamento, que antes obedecia a uma
configuração de interação entre pessoas comuns, começou a dar espaço para que
marcas pudessem surgir e atingir diversos níveis de impacto ideológico.
Figuras públicas, instituições com fins comerciais ou políticos, prestadoras
de serviços públicos ou privados, entre outros seguimentos, apareceram como
“personagens” de um novo modo de interatividade, criando laços com indivíduos
comuns, promovendo ou ditando tendências, sensações, etc.
Essas marcas e organizações começaram a identificar determinados padrões de interação social dos indivíduos; e então, compreenderam como influenciar comportamentos que pudessem retornar de maneira estruturada e unificada aos interesses aos quais formatam seus modelos específicos de negócios.
Com a chegada de plataformas como facebook, youtube, instagram, esses
seguimentos encontraram uma maneira uniforme de conseguirem influenciar
efetivamente as pessoas. Uma marca ou uma instituição com poder alto de
capital, capaz de patrocinar propagandas e sites que evidenciassem seus
“logos”, que lembrassem o público sobre a existência de sua organização
tornaram as mídias sociais um interessante atrativo para empreendedores de um
modo geral.
Hoje, para fazer com que sua marca se torne conhecida não é
mais necessário pagar a um jornal do bairro, ou uma rádio ou a TV para que te
promovam, basta você utilizar as mídias sociais para isso. No Facebook você
paga para que sua página tenha mais visualização e curtidas, patrocina anúncios
assim como no Youtube; e no próprio Google você tem diversas ferramentas onde
você paga para que seu site seja o primeiro a ser visto numa pesquisa.
Mas aí você me pergunta. O que a Umbanda tem a ver com tudo
isso?
Pois bem. Esse fenômeno das mídias sociais também atingiu a
Umbanda. E podemos numa pesquisa simples saber quais são as plataformas que se
propõem a tratar do assunto “Umbanda” na internet. Páginas no Face, canais no
Youtube, Sites. E nessa busca simples você verá quem são os que primeiro
aparecem.
A pergunta que se deve fazer é. As páginas, os canais e os
sites que vemos, estão ali unicamente por conta de sua credibilidade ou estão
por consequência do poder de investimento que eles foram capazes de injetar em
suas plataformas? Quanto foi pago às mídias sociais para que determinadas
plataformas tivessem tal número de curtidas, tal número de visualizações?
Esse tema em relação ao impacto das marcas e instituições
sobre os indivíduos comuns é muito estudado e discutido no meio acadêmico. As
vezes a sensação que as pessoas têm de liberdade ao navegar na internet pode
ser algo ilusório. Pois a todo tempo você vê anúncios e patrocínios que ditam o
que deve ou não aparecer em sua “timeline”, em seu “feed” de notícias. Músicos usam
muito essa lógica para viralizarem uma música que acabou de ser lançada;
pagando o Youtube, o Face e as rádios garantem o sucesso do single. Até em
questões políticas vemos isso, onde determinados partidos patrocinam para que
“formadores de opinião” promovam a disseminação de notícias (tendenciosas), tudo
no intuito de tentar controlar as ideias das pessoas.
Então. Na Umbanda, o fenômeno não é diferente pois obedece a
mesma estrutura de comunicação social.
É extremamente válido que páginas, canais e sites busquem
promover-se nas mídias disponíveis. Porém, há um conflito existencial nesse
processo que é evidente. Um Pai de Santo (Sacerdote) que encontra-se na mídia, teria enfim o devido respaldo para estar ali disseminando seu conteúdo? Talvez
o número de curtidas presentes diga que sim. Mas é número de curtidas que dizem
se algo realmente tem respaldo ou não? É o número de curtidas que denota se uma música é de qualidade ou não?
Tem muita coisa boa, porém tem muita coisa estranha na
internet também. Nem tudo são pérolas, e financiando as mídias sociais muita coisa ruim passa por coisa boa sem que os internautas possam entender muito bem do que se trata.
As mídias sociais auxiliam muito para que as pessoas
encontrem coisas que procuram, nisso gera-se uma demanda, ou seja, surge uma
exigência de um determinado número de pessoas a respeito de um tema específico.
Essa demanda está atrás de informação, e a plataforma que pagar mais e que tiver
uma estratégia de “mercado” mais efetiva irá aparecer primeiro como proposta de
saneamento dessa demanda.
Sabemos, as pessoas têm por natureza correr atrás do que é
mais fácil, mais acessível, sendo assim, as organizações vão se aproveitar dessa
natureza humana para conseguir consolidar suas marcas. Estando em primeiro
lugar no Google, pagando bem ao Face e ao Instagram para aparecer, está
garantido aí seu sucesso. Rssrs... Eu dou risada mas o caso é sério hein.. ;)
Vale salientar que na Umbanda sempre existiu uma ressalva de
abominação contra tudo que envolvesse dinheiro na religião. Pessoas usando a
Umbanda para ganhar dinheiro houveram aos tantos e sempre foram muito
criticados. E isso é historicamente fácil de explicar, pois na primeira parte
do século XX aqui no Brasil os cultos que fugiam das normatividades cristãs e tivessem algum traço de culto com matriz afro eram discriminados, e a Umbanda sofreu muito
por isso por cultuar os Orixás. E no Congresso de 1941 foi apresentada uma tese propondo a
discriminalização da prática dos rituais de Umbanda. O autor, Dr. Jayme
Madruga, tendo em mãos um minucioso estudo de todas as constituições já
colocadas em vigência no Brasil, buscou basear argumentos que abrissem o
caminho da Umbanda contra a repressão do Estado. Coube aos umbandistas engajados da época
buscar acelerar o processo com declarações e resoluções partindo daquele
congresso, em prol da discriminalização da prática da Umbanda.
Em 1944, vários umbandistas ilustres, entre eles vários
militares, políticos, intelectuais e jornalistas, apresentaram ao então
Presidente Getúlio Vargas um documento intitulado "O Culto da Umbanda em
Face da Lei" e assim tivemos a discriminalização da Umbanda enfim
efetivada em território nacional.
Porém, é nesse episódio que nasce a problemática onde outros
tipos de cultos, que também buscando fugir da repressão, adotaram a Umbanda como o nome da
“doutrina” de suas casas. Dirigentes que praticavam outros tipos de cultos
começaram a se rotularem como umbandistas. Esses dirigentes que faziam matanças
de animais com frequência, cobravam por trabalhos, executavam cultos destoantes
daqueles que foram propostos pelas primeiras tendas nascidas no Rio de Janeiro
sob a tutela do Caboclo das 7 Encruzilhadas.
Esse perfil, que utiliza do nome “Umbanda” para arrebanhar
desavisados em troca de dinheiro já é velho. Umbandistas que tem uma
determinada raiz e que levam a sério o compromisso com a religião não aceita
esse tipo de postura. Separar o joio do trigo é algo que sempre esteve na
agenda de responsabilidades das Tendas e Terreiros mais tradicionais. Lutamos
muito contra esse tipo de conduta mercantilista e é fator histórico que pauta
muito a religião de Umbanda. Uma coisa é a pessoa que faz amarrações e se diz umbandista e outra coisa é o umbandista que segue uma doutrina religiosa e ética, uma raiz de fato.
Como sabemos, as pessoas que gostam de ganhar dinheiro fácil
se adaptam com destreza às tecnologias disponíveis para conseguirem monetizar
seus “produtos”. Tem gente na internet vendendo de tudo, e isso não é errado, pois se tem demanda é óbvio que haverá quem busque atendê-la. O problema começa
quando as pessoas querem iniciar a venda de “Deus”, a vender uma cosmologia
religiosa. Isso sim é facilmente refutável.
As marcas surgem nas mídias sociais e aplacam a todos
aqueles que pouco sabem a respeito de determinado tema, e acabam pagando por um
produto sendo que se tivessem um senso crítico mais apurado poderiam conseguir
de graça.
Na Umbanda, as vezes a pessoa pode ir a um terreiro sem
precisar se filiar e fazer um curso gratuito de teologia umbandista pelo puro e
simples compromisso de tal terreiro para com a caridade. Mas, na comodidade da
internet, acaba caindo em cursos a distâncias, vídeo aulas de determinados
temas que estão ali apenas pela demanda, pela rentabilização que aquele “nicho
de mercado” tem a oferecer, os famosos Pais de Santo de internet.
Pode não parecer, mas hoje existe uma ruptura intelectual na
Umbanda entre aqueles que acreditam que o conhecimento pode sim ser
compartilhado de maneira gratuita, e outros que acham que o custo deve ser
repassado para aquele que quer ter o conhecimento. Plataformas gratuitas e
plataformas pagas estão nas mídias sociais e existem diferenças enormes entre essas duas propostas de engajamento.
E é estranho dizer isso, mas se pararmos para analisar, as
plataformas mais comprometidas com um conteúdo amplo e de qualidade são aquelas
que tem um número menor ou mediano de seguidores. Por estarem preocupados com
algo que realmente agregue a Umbanda e aos umbandistas acabam não focando em
disseminar tudo isso para um número grande de pessoas. Pois convenhamos, que
quem realmente quer saber e se aprofundar, não só em doutrina, mas também em questões
críticas da Umbanda vai vir pela curiosidade, pelo empenho da pesquisa.
Porém, aquelas plataformas que tem um número gigante de
seguidores focam bastante na “viralização” de temas que acompanhem a
curiosidade de novatos, de pessoas que estão atrás de um conteúdo mais prático e fácil sobre as questões umbandistas. Essas plataformas pagam e muito bem as mídias
para terem sucesso de seus “empreendimentos”. E quando questionados por
umbandistas que discordam dessa postura mercantilista da qual adotam, apelam
para seus seguidores, os colocando como mediadores dessa questão.
A verdade é que existe uma falsa sensação desses seguidores, a sensação de estarem seguindo alguém supostamente credenciado, e esse sentimento surge justamente por ver o número de fiéis que assistem aos mesmos vídeos, pagando pelo mesmo curso, curtindo a mesma página. É uma sensação sociológica de "pertencimento alienado".
A verdade é que existe uma falsa sensação desses seguidores, a sensação de estarem seguindo alguém supostamente credenciado, e esse sentimento surge justamente por ver o número de fiéis que assistem aos mesmos vídeos, pagando pelo mesmo curso, curtindo a mesma página. É uma sensação sociológica de "pertencimento alienado".
Mercantilizar a Umbanda é um processo antigo, sempre executado tendo como
combustível e foco principal a ingenuidade de quem não entende quase nada de Umbanda. Quem conhece a Umbanda e sua história sabe que usar ela como
instrumento para ganhar dinheiro é errôneo, uma atitude antiética.
Porém, essas plataformas hoje estão atrás de convencer você
de que a Umbanda é um produto. Plataformas com um número alto de seguidores.
Mas fica a pergunta... Qual o perfil dos seguidores?
São questões que temos de levantar, que temos de nos
questionar. A Umbanda não pode seguir o caminho que outras vertentes religiosas
seguiram, que olham o fiel como o fator que faz girar sua renda. O fiel é
ingênuo (o leigo). Vendilhões da fé estão espalhados pelo mundo.
Estão dizendo por aí que fornecer prato de comida de graça
para mendigo ou pessoas em estado de pobreza é errado, e tem gente abraçando
essa ideia. Tem gente tentando substituir a tão aclamada “caridade umbandista”
por solidariedade, e tem gente abraçando essa ideia.
Por isso, ao escolher seguir alguém que se propõe a falar de
Umbanda nas mídias sociais, cuidado! Analise alguns pontos antes. Não trate
ninguém como herói, pois as vezes o dirigente umbandista que está ali fazendo o
SIMPLES em seu terreiro, passando informação para um pequeno número de pessoas
e GRATUITAMENTE, que se envolve em projetos sociais CONSISTENTES, esse sim pode
ser o grande herói, e aqueles que buscam ter um número gigante de seguidores
talvez estejam enfim interessados em ganhar com a sua ignorância, sem ter a
capacidade de abrir a própria porta de casa para ajudar alguém necessitado,
capaz de bloquear seu acesso a um curso por você não ter o dinheiro da
mensalidade para pagar aquele mês (história verídica).
Tem muita gente boa falando de Umbanda nas mídias
sociais, tem muita plataforma ajudando as pessoas a atingirem uma consciência
mais ampla a respeito das coisas. Mas tem gente mal intensionada também, gente se apegando
ao número de seguidores comprados no Facebook para implantar um discurso
mercantilista disfarçado de mentalidade próspera.
Fique atento irmão, sua mente é um templo, não deixe manipularem algo tão sagrado!