Por: F. Rivas Neto
O Movimento Umbandista surgiu no final do século XIX, utilizando-se como cenário os cultos miscigenados de negros, índios e brancos, conhecidos como macumbas, candomblés, catimbós, torés, xambás, babassuês, xangôs, etc. Nesse contexto, começaram a se manifestar entidades espirituais, através da incorporação, nas formas de índios (Caboclos) e de Pais-Velhos trazendo as mensagens dos espíritos ancestrais desses povos. O processo do sincretismo facilitou a inclusão da cultura católica pela assimilação dos santos com as divinidades do panteão africano e ameríndio. Logo apareceriam também as entidades que se apresentavam como Crianças, completando o ternário de manifestação mediúnica que serviria de base para a sustentação da doutrina umbandista.
Essas três formas de apresentação, Crianças, Caboclos e Pais-Velhos, correspondem a arquétipos do inconsciente coletivo com seus valores intrínsecos — o enigma da esfinge desvendado. Assim, a forma "infantil" representa o início do ciclo e também a Pureza; a forma adulta, de "caboclo", carrega o valor da Fortaleza e da Simplicidade; e a forma senil, de "pai-velho", identifica-se com a Sabedoria e a Humildade. Pureza, Simplicidade e Sabedoria Humilde seriam as virtudes a serem cultivadas por todos os umbandistas, bem como regeriam a ética desse setor filorreligioso.
No início do século XX, com o médium Zélio Fernandino de Moraes, a Umbanda recebeu sua primeira roupagem, com organização à parte dos cultos afro-ameríndios. Nessa época também surgiu o vocábulo Umbanda para designar aquela forma ritualística monoteísta, que cultuava os Orishas como representantes da Divindade e que tinha as entidades espirituais, que se manifestavam pela mediunidade dos adeptos, como ancestrais ilustres enviados pelos Orishas. A característica mais marcante do culto, nesse tempo, era o fato de ser simples, objetivo, aberto a todos os segmentos sociais, econômicos, religiosos ou étnicos. Desde o início, a abertura universal era estigma da Umbanda.
Com o passar do tempo, várias formas de culto surgiram, cada uma com proporções diferenciadas de influências africanas, ameríndias, européias e mesmo orientais, facilitando a adaptação e assimilação da doutrina por recém-egressos de outros cultos. Essa fase caracterizou-se por uma rápida propagação e expansão da Umbanda, especialmente pela abundância de manifestações espiríticas concretas, fenômenos físicos, curas espirituais e movimentação das forças sutis da natureza pela magia manipuladas pelos orishas, guias e protetores que "baixavam" nos vários terreiros, cabanas, choupanas, tendas de Umbanda de todo Brasil. Apesar de todas as manifestações impressionantes, o tônus do movimento umbandista nessa época era dado pelo pragmatismo e pelo empirismo doutrinário, não havendo um sistema consistente filosófico acessível aos praticantes.
A partir de 1956, com o lançamento do livro Umbanda de Todos Nós, novo alento foi dado à Umbanda por Mestre Yapacany (W. W. da Matta e Silva) que viria mostrar o aspecto oculto do conhecimento trazido pelas entidades militantes nesse movimento. Em mais oito obras, Mestre Yapacany desenvolveu as bases da escrita sagrada da Lei de Pemba, a hierografia umbandista, apresentou os fundamentos da metafísica da Umbanda e revelou a conexão com o sistema cosmogônico ligado à cabala ário-egípcia, descrito em 1911 por Saint-Yves d'Alveydre em seu L'Archéomètre.
Apesar de toda a contribuição filosófica e científica dada à Umbanda por Mestre Yapacany, na denominada Umbanda Esotérica, as mudanças práticas no sistema ritualístico foram modestas, considerando-se que a profundidade da doutrina era alcançada por poucos e raros iniciados, não havendo um método sistemático de transmissão de conhecimento, nem uma organização templária capaz de conduzir os neófitos aos patamares superiores da iniciação, a não ser que uma predisposição inata se fizesse sentir de maneira muito evidente.
Chegamos então à fase representada pela Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino, fundada por nós em 1970, honrando o compromisso que temos com nossos mentores e com Mestre Yapacany, do qual fomos discípulo e recebemos a incumbência de continuar a tarefa.
"A Escola da Síntese preconiza a Universalidade e a Unidade de todas as coisas que nos remete à Paz Mundial que se consolida na Convergência."
Yamunisiddha Arhapiagha
Texto de abertura do Livro: Umbanda — A Proto-Síntese
Cósmica (Epistemologia, Ética e Método da Escola de Síntese)