Lendo “A noite escura da alma” um presente que me foi dado por um professor que reencontrei, me pus a pensar nas noites escuras que enfrentamos em nossa caminhada terrena.
São João da Cruz era um religioso muito transparente, humano em sua essência e deixou isso claro quando escreveu o livro expondo suas dúvidas em relação a fé e chegou a dizer que Deus por vezes era para ele inacessível. Assim como ele, Madre Teresa de Calcutá também disse ter desejo de rasgar o hábito em seus questionamentos à Deus, quando buscava uma vida mais próxima dos que sofriam, distante dos templos de concreto.
Não eram dúvidas em relação ao Criador creio eu, mas acredito serem receios diante da natureza humana, diante da dificuldade, ou melhor, dos desafios de vivenciar a fé no sagrado em meio a tantas adversidades, a interesses menores que envolvem o mundo.
Trazendo para nossa realidade infinitamente menor, todos nós estamos sempre sujeitos as noites escuras, nossas almas são divinas, porém imersas no mar da vida onde as ondas das dores nos balançam sempre.
Há uma gama crescente de sacerdotes não só de Umbanda, mas de várias agremiações religiosas passando pelo tormento interno da busca do equilíbrio da fé, uns cansados deixam por um período as trincheiras, mas logo surgem outros para assumirem o posto vazio.
Se isso ocorre com aqueles que são chamados a guiar, seria diferente com os que são orientados? Mesmo aquele que não vivencia uma fé mais ativa, mas tem certeza de que é movido pela Mão do Pai, por vezes tropeça nos caminhos que percorre.
A noite escura de nossas almas é por vezes um cansaço diante do desafio de subir um monte e não chegar logo ao cume. Pode ser como aquele que se debate nas águas achando que vai ser vencido pelo mar, mas surge sempre uma mão no momento certo.
Por vezes é a batalha silenciosa do burilamento moral, da reforma íntima que nossa consciência divina nos alerta todos os dias como se fosse um fio tênue separando o que somos, do que sabemos que deveríamos ser.
Certas vezes são as dores da vida, as marcas do caminho ou as angústias que não compreendemos mais o porquê. Todos nós estamos e estaremos sujeitos a isso, médiuns, orientadores, padres, pastores ou sacerdotes. Somos humanos!
Cristo também não suplicou ao Pai que afastasse dele o cálice amargo?
Homem algum pode fazer com que essa escuridão cesse e ninguém tem o poder ou a receita para isso. Dentro do processo da dúvida é necessário primeiro se conhecer, se perceber e se encontrar. Achar a alma, o ânimo, e após isso com a alma nas mãos e nos pés, com a alma nos olhos e na língua, se reencontrar com o Divino.
Se fortalecer na fé não é algo confortável, é promover uma reviravolta dentro de nós mesmos todos os dias, é construir e no dia seguinte por tudo abaixo, é não ter zona de conforto, pois o conforto está no Pai. E o Pai não quer que sejamos invencíveis, apenas filhos que crescem a cada dia um pouco mais, e crescer dói...
Não importa qual o motivo, ou o porquê de sua noite, tenha certeza, vai passar!
É próximo da manhã que a noite fica mais densa, pois como diz o próprio São João da Cruz “quando vemos com os olhos da fé é por que aprendemos a enxergar na escuridão!”
Por: Sid Soares