Os intelectuais brasileiros do final do século 19 criticavam as religiões afro-brasileiras, diziam que elas eram primitivas e retrógradas. Entretanto, em 1885 o espiritismo de Allan Kardec começou a ter popularidade dentro da classe média urbana brasileira. Os Kardecistas – seguidores do espiritismo – eram principalmente brancos afluentes, membros das carreiras militares e classes profissionais. A mesma mentalidade da classe média respondeu fortemente à filosofia Positivista de Auguste Comte. O Positivismo de Comte visava melhorar a sociedade através da união da religião e da ciência.
O Início - Em 15 de novembro de 1908, um grupo de Kardecistas tiveram uma sessão espírita na Federação Espírita na cidade de Niterói, próxima ao Rio de Janeiro. Entre eles estava presente Zélio Fernandino de Moraes, um jovem de 17 anos de idade que se preparava para entrar para a Marinha. Zélio pertencia a uma família católica tradicional e um dia (milagrosamente) ele se recuperou de uma paralisia que os médicos não conseguiam curar. Zélio atribuiu a sua cura a um espírito. Seguindo o conselho de um amigo da família, Zélio foi até a Federação onde ele foi convidado a participar da sessão espírita.
Durante a sessão, Zélio de Moraes incorporou um espírito que se identificou como o Caboclo das Sete Encruzilhadas (um espírito rústico, multiracial das Sete Encruzilhadas). Pouco depois, um outro espírito possuiu Zélio de Moraes. O novo espírito se identificou como Pai Antônio, um escravo bondoso e sábio que havia morrido durante uma sessão de chicotadas.
Espíritos de índios e afro-brasileiros eram comumente incorporados por médiuns em várias Macumbas praticadas no Rio de Janeiro no século XIX, mas os Kardecistas os consideravam espíritos inferiores ou pouco desenvolvidos. Os Kardecistas acreditavam que tais manifestações não proporcionavam conselhos bons ou úteis. A incorporação de Zélio enfureceu muitos dos que estavam presentes na sessão.
Várias pessoas presentes testemunharam as incorporações e revelaram como os espíritos do Caboclo das Sete Encruzilhadas e de Pai Antôniio desafiaram os Kardecistas, perguntando: “Por que você acredita que a alma de uma pessoa humilde não pode evoluir para um plano superior?”
De acordo com uma das testemunhas, o espírito do Caboclo professou: “Se você criticar os espíritos do negro e do índio como pouco desenvolvidos, eu devo dizer que amanhã eu vou estar na casa deste instrumento (o médium Zélio de Moraes) para começar um novo culto onde este negro e índio vão poder proclamar suas mensagens e, então satisfazer a missão que o plano espiritual os delegou.”
No dia seguinte às 8 da noite, na residência de Zélio em Neves – um bairro vizinho de Niterói, o mesmo espírito se manisfestou como havia prometido. Desta vez os administradores da Federação Espírita, os amigos da família e um grande número de incrédulos e estranhos presenciaram a sessão. Algumas pessoas com deficiência física se aproximaram do espírito e foram curadas – uma prova visível de atos do bem e de uma força superior.
Neste evento o Caboclo das Sete Encruzilhadas estabeleceu as regras do culto. Cada sessão iria ocorrer de 8 às 10 da noite. A sessão, destinada à recuperação dos mentalmente obcecados, seria gratuita e aberta ao público. As canções seriam cantadas sem o uso de atabaques ou palmas rítmicas.
O novo culto foi chamado de UMBANDA. O primeiro templo de Umbanda foi chamada de Tenda Espirita Nossa Senhora da Piedade. O templo, construído na residência da família de Zélio se tornou um ponto de atração para os doentes, os devotos e os curiosos.
O dia 15 de novembro foi escolhido como o dia de inauguração da Umbanda.
Eventualmente, para assistir a missão da Umbanda, o Orixá Malé se manifestou exclusivamente para curar os obcecados mentais, diligentemente se opondo aos trabalhos de magia negra.
Em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas anunciou uma série de templos que seriam criados cujas missões seriam para ajudar a estabelecer a palavra da Umbanda. Estes sete templos foram chamados:
- Nossa Senhora da Guia - Pres. Leal de Souza, por volta de 1918
- Nossa Senhora da Conceição
- Santa Bárbara - Pres. João Salgado
- São Pedro - Pres. José Mendes
- Oxalá - Pres. Paulo Lavois
- São Jorge - Guia Espiritual Ogum de Tibiri, Médium João Severino Ramos, fundada em 1935
- São Jerônimo - Pres. José Álvares Pessoa, após 1935.
Depois dos primeiros sete templos, muitos templos foram fundados no Brasil, especialmente nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Pará (Belém).
Em 1937, os templos fundados pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas foram consolidados na Federação Espírita de Umbanda do Brasil. Depois a União Espiritualista de Umbanda do Brasil foi estabelecida. Zélio estabeleceu federações em São Paulo e Minas Gerais.
Em 1947 o jornal de Umbanda foi criado e por mais de vinte anos ele disseminou a doutrina da Umbanda. Durante os anos 40, 50, 60 e 70, os administradores da Umbanda tentaram desenvolver uma visão consistente. Ainda assim, surgiram várias versões da religião.
Por Aliana Zenon