Olorum gera tudo de Si, e uma de suas gerações é a Justiça
Divina, que dá o devido equilíbrio a tudo o que gera. Essa sua qualidade equilibradora está em tudo e em todos, e
mantém toda a Criação Divina em equilíbrio e harmonia, dando a tudo um ponto de
equilíbrio.
Olorum gerou nessa sua qualidade equilibradora de tudo e de
todos uma divindade que é em si mesma o Equilíbrio Divino que dá sustentação a
tudo o que existe, tanto animado quanto inanimado, surgindo o Trono da Justiça
Divina, Divindade unigênita porque é o Orixá do equilíbrio, da razão e do Juízo
Divino.
Deus é justo e tudo o que gera, gera com equilíbrio, pois tudo atende a uma vontade sua, às suas criaturas, espécies e seres. E Xangô, o Orixá da Justiça, independe de nossa vontade para atuar sobre nós, já que ele é em si mesmo essa qualidade equilibradora do nosso Divino Criador.
Xangô, por ser unigênito e ter sido gerado em Deus, é em si
mesmo a Justiça Divina que purifica nossos sentimentos com sua irradiação
incandescente, abrasadora e consumidora das emotividades.
Mas Xangô, como Qualidade Divina, está na própria gênese das
coisas como a força coesiva que dá sustentação à forma que cada agregado
assume, ou seja, ele está na natureza das coisas como o próprio equilíbrio,
pois só assim elas não deixam de ser como são. Ele tanto é o ponto de
equilíbrio que dá sustentação a estrutura atômica de um átomo como é a força
que dá estabilidade ao universo e a tudo o que nele existe, seja animado, seja
inanimado.
Xangô também gera em si a qualidade em que foi gerado. Mas
ele também gera de si essa sua qualidade equilibradora e a transmite a tudo e a
todos.
Quem absorvê-la torna-se racional, ajuizado e ótimo
equilibrador, tanto dos que vivem à sua volta como do próprio meio em que vive.
Um juiz é um exemplo bem característico dessa qualidade equilibradora irradiada
por Xangô, e não importa que o juiz seja um "filho" de outro Orixá,
pois a manifestará naturalmente, já que a justiça humana é a concretização da
Justiça Divina no plano material.
Um juiz não consegue dissociar-se da qualidade da Justiça, à
qual serve com toda a sua capacidade mental e intelectual, mas nunca
emotivamente, pois é um racionalista nato.
Essa qualidade equilibradora está presente em todos os
processos divinos (criação e geração). Por isso, assim que algo alcança seu
ponto de equilíbrio, o processo criador ou gerador é paralisado e o que foi
criado ou gerado estabiliza-se e adquire uma definição só sua que o qualificará
dali em diante.
Com isto explicado, podemos entender a importância que tem
essa Qualidade Divina, que na Umbanda a vemos nos procedimentos retos, justos e
ajuizados dos Caboclos de Xangô. Por isso, quando evocamos a presença dele, só
o fazemos se for para devolver o equilíbrio e a razão aos seres e procedimentos
desequilibrados ou emocionados, ou para clamar pela Justiça Divina, que atuará
em nossa vida anulando demandas cármicas, magias negras, etc., devolvendo-nos a
paz, a harmonia e o equilíbrio mental, emocional, racional e até nossa saúde,
pois, para estarmos saudáveis, devemos estar em equilíbrio vibratório também no
corpo físico.
Observem que o equilíbrio proporcionado por Xangô não se
limita apenas a um aspecto de nossa vida, já que ele, como qualidade
equilibradora, está em todos.
Xangô é o Trono de Deus gerador e irradiador do fator
equilibrador, mas o limitamos quando deixamos de recorrer a ele para ajudar-nos
em todos os aspectos e só o fazemos para anular demanda ou impor a Justiça
Divina na vida dos seres desequilibrados.
[Texto extraído do livro: Doutrina e Teologia de Umbanda
Sagrada, pág 157/159]