Há muitas divergências a respeito da data de nascimento de
Matta e Silva (Woodrow Wilson da Matta e Silva). Segundo o prefácio da Livraria Freitas Bastos em sua 3ª edição de
“Segredos da Magia de Umbanda e Quimbanda” e 6ª edição de “Lições de Umbanda e
Quimbanda na Palavra de um Preto Velho”, a data de seu nascimento é 28 de julho
de 1916. Já no livro “Umbanda Brasileira – Um século de História” de Diamantino
Fernandes Trindade, consta a data de 28 de julho de 1917 e nas obras do autor
Francisco Rivas Neto consta 28 de junho de 1917.
Foi para o Rio de Janeiro aos 5 anos de idade. Entre 12 e 13
anos passou a vivenciar fenômenos mediúnicos, através de visões de Entidades,
aos quais ele não compreendia. Sua primeira manifestação mediúnica ocorreu aos
16 anos com a incorporação de Pai Cândido. Nessa época, era auxiliar de redação
de um periódico carioca e morava em uma república no centro do Rio de Janeiro.
Aos 17 anos iniciou sua busca por um local para o
desenvolvimento de seu trabalho mediúnico, passando a visitar diversos terreiros.
Entretanto, a Entidade Espiritual que lhe assistia lhe avisava que ele teria
sua própria casa espiritual.
Matta e Silva relata à página 14 de sua sétima obra “Umbanda
e o Poder da Mediunidade”:
“...Sempre tive uma tendência irrefreável, desde muito jovem, 16, 17 anos de idade, que me impulsionava a ver as chamadas “macumbas cariocas”. Claro está que não estava ainda conscientizado do “por que” de semelhantes impulsos (se bem que, desde 9 anos de idade éramos acometidos por fenômenos de ordem espírito-mediúnicos e aos 16 anos já acontecia a manifestação espontânea de nosso “Preto Velho”, que baixava num quarto onde morávamos, na Rua do Costa, nº 75)...”
Em 1937, com apenas 21 anos, passa a residir na Pavuna, onde
montou seu primeiro terreiro.
Matta e Silva era conhecido como uma pessoa de personalidade
forte, de sensibilidade aguçada, muito inteligente, atualizado quanto as
atualidades de sua época e com grande cultura em diversas áreas do conhecimento.
Tinha a mente aberta, não gostava de ser endeusado por seus seguidores e tinha
hábitos simples. Era um bom pai de família e com um peculiar senso de humor
nordestino que só se manifestava entre amigos.
Era um médium crítico, que pesquisava e escrevia muito sobre
Umbanda e espiritualidade. Autor de 9 obras importantes que revelam o
hermetismo na Umbanda estimulando estudos e reflexões que revolucionaram os
conceitos doutrinários umbandistas.
Durante meio século se dispôs a visitar centenas de
terreiros para poder relatar em suas obras o que se passava dentro do “Movimento
Umbandista”.
A partir de 1954, Pai Guiné de Angola começa a direcionar
sua vida mediúnica. Nessa época, recebe desse “Preto-velho” a mensagem “Sete
Lágrimas de Pai Preto”, que seria um dos marcos da renovação da Doutrina
Umbandista. Nesse mesmo ano passou a escrever para o “Jornal de Umbanda”, onde
publicou inúmeros artigos. Mesma época em que iniciou também a obra que viria a se transformar em um dos seus livros mais lidos “Umbanda de todos Nós”.
“Umbanda de Todos Nós” foi lançada em edição paga pelo
próprio autor, através da Gráfica e editora esperanto, a qual se situava na
época, à Rua General Argolo, 130, Rio de Janeiro. A primeira edição saiu com
3.500 exemplares e rapidamente se esgotou. A partir da segunda edição a obra
foi lançada pela Livraria Freitas Bastos, a mesma que até hoje reedita suas
obras.
A época de suas edições, “Umbanda de Todos Nós” agradou a muitos umbandistas, que nela encontraram fundamentos e escritos doutrinários com determinada profundidade. Por
outro lado, este livro incomodou muita gente, que combateram veementemente as
suas exposições e perspectivas a respeito da Umbanda. O fato é que esse combate
contra sua obra ajudou a promovê-la ainda mais.
Em 1957, orientado por Pai Guiné e através da Editora
Esperanto lançou “Umbanda – Sua Eterna Doutrina”, que abordava conceitos
esotéricos e metafísicos. Para complementar e ampliar os conceitos tratados em
Sua Eterna Doutrina, Matta e Silva lançou, pouco tempo depois, a obra Doutrina
Secreta da Umbanda.
Apesar de suas obras serem lidas e estudadas pelos adeptos e
estudiosos do Ocultismo, seu Santuário em Itacuruçá era frequentado pelos
simples e humildes que nem desconfiavam ser o Velho Matta um escritor de renome
no meio umbandista.
Em seu santuário junto à natureza, Matta e Silva escreveu em
1961 outra de suas importantes obras chamada: “Lições de Umbanda e Quimbanda na
Palavra de um Preto-Velho”, obra mediúnica que apresenta um diálogo entre um
Filho-de-Fé, Cícero (Cícero Faria de Castro, médico e estudioso) e a Entidade
espiritual que se diz Preto-velho (Pai Guiné). Esta obra apresenta uma maior
facilidade de entendimento para grande parte dos umbandistas referente os
ensinamentos contidos nas obras anteriores.
A Choupana do Velho Guiné, em Itacuruçá estava lotada quase
todos os dias. Lá eram atendidas pessoas de Itacuruçá e das mais longínquas
regiões do Brasil. Lá, os dramas do ser humano eram tratados á Luz da Razão e
da Caridade. Durante 10 anos o Velho Matta atendeu pessoas da região e das
ilhas próximas, ministrando remédios da flora local e alopatias simples que ele
mesmo comprava quando ia á cidade do Rio de Janeiro.
Seguindo sua tarefa missionária, Matta e Silva escreveu sua
quinta obra com o título de: “Mistérios e Práticas da Lei de Umbanda” que
relata de forma simples e objetiva as raízes míticas da Umbanda,
aprofundando-se no sincretismo dos Cultos Afro-Brasileiros. Em seguida surge à
sexta obra chamada “Segredos da Magia da Umbanda e Quimbanda” que aborda a
magia Etéreo-Física e revela de maneira simples e prática de determinados rituais
seletos da Magia de Umbanda.
Sua sétima obra, “Umbanda e o Poder da Mediunidade” explica como e porque ressurgiu a Umbanda no Brasil, abordando as origens da Umbanda e ângulos
a respeito da Magia. Adentra a parte doutrinária tratando de assuntos como
mediunidade, magia sexual, lei de salva, lei de pemba, elementares, etc. Há
também explanações importantíssimas sobre o Reino Virginal, Confraria dos
Espíritos Ancestrais, Corrente Astral de Umbanda, Governo Oculto do Mundo e
Cabala.
Em 1967 lança o livro “Doutrina Secreta de Umbanda”, que
conforme o autor foi produto de fatores mediúnicos. A corrente astral que o
assistiu na elaboração da obra era liderada por uma Entidade que se apresentava
na clarividência sob a forma de um velho índio, paramentado como se fosse um
velho pajé da antiguidade e que se identificou como Caboclo Payé.
Considerado um tratado filosófico profundo e conciso, o
livro Doutrina Secreta da Umbanda, definia de forma mais clara e objetiva os
Postulados da Corrente Astral de Umbanda, cujos conceitos foram anteriormente apresentados em “Umbanda – Sua Eterna Doutrina”.
Muitos pedidos dos simpatizantes e adeptos de suas obras
fizeram com quem Matta e Silva lançasse em 1969, o livro que pudesse sintetizar
e simplificar os livros anteriores. Esse livro recebeu o nome de: “Umbanda do
Brasil” e esgotou-se em seis meses.
Em 1975, o Grande Mestre lançava sua última obra com o nome
de Macumbas e Candomblés na Umbanda. Esse livro, documenta o que ficou em
matéria de sobrevivência religiosa, mítica e ritualística dos cultos africanos
no Brasil.
Conhecido também como Mestre Yapacani (que era na realidade o
nome de seu mentor espiritual), foi fundador da Tenda de Umbanda Oriental, fixada
na Terra da Pedra da Cruz – Itacuruçá/RJ. Tenda essa a qual veio se tornar a
Primeira Escola Iniciática de Umbanda Esotérica do Brasil. Segundo relatos, a
Tenda existiu durante pelo menos 40 anos. De 1938 a 1957 na Pavuna e de 1967 a
1988 em Itacuruçá.
O terreiro de Itacuruçá tinha uma construção simples e
humilde, em um prédio de 50m2. A área reservada aos rituais tinha o piso de
areia e a área reservada aos consulentes tinha alguns poucos bancos.
Além de Pai Guiné de Angola e de seu mentor Yapacani, Matta
e Silva era assistido por outras Entidades como o Caboclo Juremá, Caboclo Pedra
Preta, Caboclo Ogum de Lei, Caboclo Guaracy, Pai Chico, Pai Mané Carrero, Zé
Pretinho, Zambetinha, Exu Senhor das 7 Encruzilhadas e a Pomba Gira Sialú.
Durante a divulgação de seus livros e no decorrer dos anos
subsequentes, muitos foram o umbandistas que para lá se dirigiram de várias
partes do Brasil. Lá buscavam ajuda ou afiliação espiritual que pudesse
legitimar suas jornadas dentro da Umbanda. Todavia, a maioria que ali
frequentava, não enxergava a TUO como
uma escola iniciática apenas, mas sim como um Pronto Socorro Espiritual para
aflitos, desesperançados e os doentes.
Ainda é difícil dar uma definição exata a respeito do papel
que Matta e Silva desempenhou na Umbanda. Suas obras continuam sendo lidas por
muitos, estudadas por poucos e assimilada por uma minoria. Mas temos de
reconhecer acima de tudo o seu valor histórico dentro da formação cultural
umbandista.
Desencarnou Rio de Janeiro em 17 de abril de 1988. Seus
escritos, bem como sua trajetória mediúnica de mais de 50 anos de trabalho
redefiniram a Umbanda e deram à religião fundamentos, normas e um sistema de
ordenação lógico e racional, sedimentando o conhecimento dos devotos e fiéis
que nela expressam sua fé.
Referências:
- umbandadobrasil.com.br
- mandaladosorixas.blogspot.com.br (Diamantino Trindade)
- temploespiritaogumege.blogspot.com.br (Patrick Fontoura)