A palavra dialética surgiu na Grécia antiga fundamentada como um “modus” de argumentação capaz de contrapor diferentes linhas de abordagens e assim dar à luz a uma nova ideia. Aos poucos, passou a ser a arte de demonstrar um tema por meio de uma argumentação que defina claramente os conceitos envolvidos na discussão.
A palavra “dialética” vem do grego. O prefixo “dia” dá idéia de reciprocidade ou de troca: dialegein é trocar palavras ou razões, conversar ou discutir...Daí o substantivo dialectike, a arte da discussão.
Em Sócrates, a dialética era usada como método de ensino para descobrir as contradições do pensamento, provocando no discípulo a eclosão do conhecimento – a maiêutica.
A dialética na Grécia era um método de entendimento do que é real em sua totalidade. Aristóteles utilizou desse método para conseguir fazer as primeiras catalogações metafísicas da biologia. Ele determinou a dialética como a “lógica do provável”, ou seja, não existindo uma verdade definitiva, mas sim a potência metodológica do homem para conseguir chegar mais perto da verdade sobre determinada coisa ou assunto.
Os renascentistas e os iluministas reviveram esse conceito, e por fim os pensadores Kant, Hegel e Marx deram diferentes sentidos a ele.
Kant abordou a dialética como método subjetivo para busca de uma ressonância moral e efetiva da realidade.
Hegel utilizava a perspectiva dialética como provisão para que nenhuma verdade fosse definitiva, mas sim um contraponto de forças em que a mente humana deveria se preocupar em buscar uma percepção total dos fatos, para assim deter resoluções a problemas de maneira eficaz. Entretanto, segundo Hegel, a dialética não podia restringir-se a uma afirmação versus negação. O mundo físico e, sobretudo, o mundo humano não poderia resistir a este atrito contínuo. Entre a positividade da tese e a contundência da antítese, era necessário colocar a luva da síntese que, na visão hegeliana, é a integração do que há de bom na tese e o que há de bom na antítese. Segundo Hegel, a dialética não é só afirmação, não é só contrariedade, é também consenso.
Marx atribuiu a dialética um caráter histórico, onde a força de contrários faz surgir uma mudança de qualidade das coisas. Onde nada nasce do nada, mas sim obedecendo a processos causais de ordem e de poder que contribuem para transformações físicas, sociais e comportamentais dos indivíduos de determinadas sociedades.
Entender a dialética é simples. Ela precisa passar por 3 processos: a Tese, a Antítese e a Síntese.
A “Tese” traz em si uma afirmação do interlocutor a priori, ou o ideal a respeito do que se pensa ou imagina sobre um tema. É uma afirmação ou situação inicialmente dada.
A “Antítese” traz em si as perspectivas e correntes de pensamentos contrárias para um embate racional feito pelo próprio interlocutor. É uma oposição à tese
E a “Síntese” traz em si o resultado a respeito do processo de atrito lógico dos processos anteriores. É uma situação nova que carrega dentro de si elementos resultantes desse embate.
Ou seja, quando se usa o termo “desonestidade intelectual”, se quer dizer que o interlocutor não utilizou de maneira honesta os 3 processos dentro da dialética, ficando preso a uma das fases apenas.
Se um argumentador, que se propõe trazer à luz uma perspectiva contundente sobre um determinado assunto não passar pelo processo dialético, poderá ser presa fácil de convicções incapazes de se relacionarem com outras percepções a respeito de um mesmo tema. É o que chamamos de fundamentalismo ideológico.
Muitos ficam presos a Tese de uma ideia, e não conseguem colocar ela para bailar com as Antíteses existentes sobre o tema.
Outros ficam presos apenas a Antíteses de uma ideia, e preferem serem contrários o tempo todo em relação a uma Tese existente.
E outros, acabam usando a Síntese para argumentar de maneira superficial e generalizada apenas em ideias que lhe agradam por determinado ponto de vista, muitas vezes apegados ao senso comum.
Acima de tudo, a dialética é um exercício da razão para suprimir vícios comuns da mente humana que pende a ficar no senso comum das coisas. Ela surge como um auxílio para podermos entender as circunstâncias com a imparcialidade necessária na construção de um determinado pensamento.
Quando vamos ler um autor, devemos ser críticos em relação a metodologia de sua abordagem. Se ele reforça demasiadamente o valor de uma escola ou uma ideia em detrimento de outras escolas de pensamento e outras ideias, há aí um problema. Ou, se e ele é contra todas escolas existentes e ele é o único a entender o “Matrix da vida”, há aí também um problema.
Pois, de uma perspectiva da filosofia do conhecimento, ser convicto de apenas uma linha de abordagem reduz em muito a possibilidade de se criar o movimento necessário do interlocutor que seja capaz de fornecer algo útil tanto a quem lê, quanto para com o tema que decide abordar. Ser dono de tese ou de antíteses em muito pouco agrega.
Quando for ler alguém, procure perceber essas tonalidades no que ele escreve. A dialética trata-se de maturidade ética na abordagem sobre as variantes que envolvem os temas.
Em tempos de polaridades, discernimento dialético é essencial. Tese, antítese e síntese precisam situar os argumentos que estão a deriva..