Toda sociedade tem regras, e essas regras são baseadas em suas constituições federais. A vida em sociedade é livre desde que se respeite as regras dos poderes legislativos, executivos e judiciários, que muitas vezes podem não estar claras, mas que se forem transgredidas levam o cidadão a responder perante a lei. Uma democracia é uma sociedade regida por leis que garantam que cada um possa ir e vir tendo seus direitos reconhecidos como cidadão, e cada cidadão, assim como pode ir e vir, também tem que ter a noção dos seus limites na convivência humana.
A palavra democracia não é sinônimo de liberdade, mas sim de convivência e respeito, baseados em regras.
Não é raro ouvirmos por aí que a Umbanda é a religião mais democrática do mundo. Mas o que querem dizer com isso? Que a Umbanda aceita as pessoas independente de suas características físicas, morais, religiosas e intelectuais, não há dúvida. Ela aceita, e acredita que pode participar no processo de evolução de todos que recorrem a ela.
Não é raro ouvirmos por aí que a Umbanda é a religião mais democrática do mundo. Mas o que querem dizer com isso? Que a Umbanda aceita as pessoas independente de suas características físicas, morais, religiosas e intelectuais, não há dúvida. Ela aceita, e acredita que pode participar no processo de evolução de todos que recorrem a ela.
Porém, na Umbanda existem regras como em qualquer outra religião, e isso as vezes pode não ficar claro para algumas pessoas. Muita gente chega a achar que em nossa religião devemos aceitar a tudo de olhos fechados, como se a nós só restasse a postura de acreditar que o tempo e as coisas é que ajeitam tudo.
Mas nem sempre o tempo e as coisas resolvem, e precisamos recorrer a outras ferramentas para acertar fatores que a religião por si só encontra limitações de atuação.
O Umbandista precisa mostrar o que o difere dos demais na sociedade. Não cabe a nós simplesmente passarmos panos quentes em assuntos que precisam sim serem discutidos, argumentados.
A Umbanda que passa mensagens de luz é uma, a Umbanda que luta por reconhecimento social, político e jurídico é outra. O preconceito assola o Brasil, um dos países mais conservadores do Ocidente. Com o crescimento de grupos reacionários e evangélicos cada vez mais vemos a Umbanda, o Candomblé e todas a religiões de matriz africana sendo perseguidas por diversos meios. Se calar perante a esses fatos é uma ingenuidade sem tamanho.
Ser umbandista hoje requer uma consciência dos empecilhos que acarretam em consequências negativas para nós e nossos irmãos de fé.
Assim como no caso do fim de ano que chega, e a história é sempre a mesma. Muitos se vestem de branco, estouram champanhe, jogam oferendas no mar, acendem velas na praia. Mas nem todos são Umbandistas, muitos simplesmente fazem o ritual por crendice, por superstição. É dever do Umbandista achar legal e bonito isso? Até que ponto?
Muitos afirmam que sim, que é válido, afirmam que é o poder de nossa religião tocando a mente e o coração das pessoas que muitas vezes nem pisaram em nosso chão. Mas, e depois que as oferendas agridem o meio ambiente? Aqueles barcos de papelão e isopor, as garrafas de vidro, pentes de plásticos, largados no dia seguinte na beira da praia. É legal ouvir que o Umbandista fez aquilo?
Não, não é legal. A maioria dos Umbandistas hoje em dia parou com essa prática de jogar no mar produtos agressivos ao meio ambiente e de uns vinte anos pra cá temos tomado imenso cuidado em fazer com que nossas oferendas se adaptem a uma manifestação religiosa ecologicamente correta. É visível isso. Em todos os terreiros que tenho frequentado em São Paulo e em Guarulhos essa pauta está em voga.
Mas e os simpatizantes? Aqueles que só lembram da Umbanda quando o calo aperta ou no fim do ano na saudação de Iemanjá? Eles sabem disso?
Muitos não sabem. E nós umbandistas não precisamos aceitar que pessoas que desconhecem nossos compromissos ambientais, sociais e humanitários utilizem o nome de nossa religião para agredir de maneira inconsciente o meio ambiente.
Nessas horas não cabe a nós expressar palavras "bonitinhas" apenas para parecermos espiritualizados perante a uma sociedade doente em suas prioridades mal discernidas. Cabe a nós dar o devido puxão de orelha.
Quer fazer certo? Quer praticar algum ritual? Se instrua, procure saber a respeito, não saia por aí fingindo ser um dos nossos. Faz mal pro mundo, pra nós umbandistas, e para aqueles que desconhecem nossos compromissos.
Ser umbandista não é fácil. Apesar de ser muito gostoso, as responsabilidades são muitas. Fazemos parte de uma religião democrática sim, nela aceitamos muita gente, somos plurais, mas temos regras, temos compromissos. Acredito que tenha passado o tempo em que as pessoas simplesmente nos respeitavam pelo valor cultural e cênico de nossa religiosidade. Os tempos hoje prescrevem que as pessoas (os cidadãos) nos respeitem pelo que somos de verdade. Somos religiosos, temos nossos conceitos, nossos rituais, nossas "identidades". Não podemos mais servir de bode para gente descompromissada com nossas questões.
Se quer fazer um ritual para Iemanjá, faça direito. Itens naturais como pétalas, folhas, ervas, líquidos, Ok. Mas, plástico, vidro, metal, esquece... Se você não respeita isso, podemos dizer que você é um "agressor ambiental", e na democracia umbandista que se baseia em regras, você precisa mudar muito seus padrões e conceitos a respeito do que é a Umbanda.