16 de out. de 2015

Trono da Vitalidade na Umbanda

Sabemos que Deus é um só manifesto por meio de muitos nomes diferentes, que implicam culturas e formas diversas de entendimento e concepção do que Ele vem a ser. Também podemos caracterizar esse fato como unidade e diversidade, a unidade da essência que encontra na diversidade formas variadas de entendimento, segundo a cultura e o perfil coletivo e individual. Por esta razão é tão importante que haja muitas religiões, pois cada uma atende uma maneira diversa de entender e expressar a realidade em que vivemos e o sagrado que permeia esta realidade. Pensando desta forma é mais fácil de entender que assim como Deus se amolda a certas concepções da divindade, assim também é com seus mistérios maiores e menores, assim também é com suas divindades maiores e menores.


Com as divindades se dá processo análogo, Deus não cria novas divindades para novas religiões, as mesmas divindades assumem nomes e formas variadas, adaptam-se e amoldam-se nos cultos e culturas diversas, para alcançar o coração, mente e espírito de uma comunidade. Assim é com a Divindade ou Trono Feminino do Amor, que nós identificamos na Umbanda como Oxum, que é a mesma Oxum do Candomblé; no entanto, como a Umbanda é outra religião, há um processo de releitura e adaptação entre a divindade e aqueles que recorrem a ela dentro desta realidade (Umbanda). Senão, vejamos, se nós identificamos uma divindade feminina do amor como Oxum, seguindo este raciocínio, é possível identificá-la em outras culturas com outros nomes, o que será apenas os diversos pontos de vista a cerca de um mesmo mistério. Na cultura grega Afrodite, romana Vênus, hindu Lakshmi, egípcia Isis, nórdica Freyja, celta Blodeuwed, chinesa Kwanin, asteca Xochiquetzal e outras.

No Judaísmo nega-se a presença das divindades, no entanto, há centenas de anjos e variados nomes para Deus, em que cada nome revela uma de suas qualidades. No cristianismo também se negam as divindades, no entanto, os vários santos católicos formam, praticamente, um panteão de “semideuses”, cada santo ocupa o lugar de uma divindade. O que foi uma necessidade, durante o período de expansão do Catolicismo, pois os vários cultos à “Deusa do Amor” ou simplesmente ao Trono Feminino do Amor têm uma função e razão de ser junto à humanidade. Desta forma, os santos passaram a ocupar e também a manifestar as qualidades, virtudes e mistérios que pertencem às divindades. Nossa Senhora praticamente assumiu a posição de Feminino de Deus, é ela a idealização da Grande Deusa, e em seus mais variados nomes vai apresentando os mistérios diversos de muitas divindades femininas por meio de seus nomes e arquétipos variados. Assim encontramos Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora das Virtudes, Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora da Saúde, Nossa Senhora Desatadora dos Nós e outras, em que cada uma manifesta um mistério diferente na criação. Os mistérios da criação estão relacionados às divindades que lhes dão sustentação. Desta forma, uma divindade é manifestadora natural de um ou mais mistérios de Deus; por meio dos cultos às divindades entramos em contato com esses mistérios.

Sei que para alguns ainda é difícil entender a diferença entre Orixá Exu e Entidade Exu.

O Orixá Exu é a nossa forma de entender uma divindade de Deus, a Divindade ou Trono da Vitalidade, aquele que dá vitalidade a toda a criação. A entidade exu é um espírito humano que trabalha com esse mistério, todos os exus de Umbanda, todas as entidades exu, trabalham sob o amparo e sustentação do Orixá Exu.

Podemos dizer que o Orixá Exu está para as entidades Exu assim como Oxóssi está para os Caboclos, Obaluaê está para os Pretos-velhos ou Ibeji está para as Crianças. Por esta razão é fundamental começar este estudo partindo do Orixá Exu em que iremos encontrar muitos conceitos, qualidades, atributos e atribuições que deste passaram para as entidades. Ou não é verdade que nossos guias, exus, são chamados de mensageiros, senhores da magia, senhores do axé, da força, do poder, da proteção, guardiões e etc.? Que são adjetivos do Orixá Exu agora absorvidos e manifestos por nossas entidades.

A Força, o Poder e o Mistério do Orixá Exu, na Umbanda, está sob a guarda das entidades exu que trabalham dentro do que chamamos de lei ou, se preferir, da Lei Maior. Como muitas coisas erradas já foram feitas em nome do Orixá Exu, como muita deturpação e muito trabalho negativo já se realizou em seu nome, coube aos Guardiões de Lei que conhecemos como entidades exu trabalhar com seu mistério.

Também vemos afirmações como “Exu não é bom e nem ruim, depende o que você pede para ele”, “Exu não tem culpa e nem responsabilidade do que faz, o ônus cabe a quem o evocou e oferendou”. Essas afirmações podem ser verdadeiras quando se trata de Exu como elemento mágico, apenas, no entanto, Exu não se limita a elemento mágico, pois é parte integrante de uma religião. O que quero dizer é que religião implica ética e bom senso, toda religião tem objetivo de praticar o bem e ir ao encontro do sagrado.

Umbanda é religião, portanto, só pode praticar única e exclusivamente o bem. Desta forma, entendemos que em magia é possível afirmar que a magia é uma só e que cada um dá a ela sua prática positiva ou negativa (“magia branca” ou “magia negra”, o correto seria dizer Magia da Luz ou Magia das Trevas). No entanto, em religião e na Umbanda, ao contrário do que muitos ainda hoje afirmam, exu só pode praticar única e exclusivamente o bem. Embora o bem seja relativo em sua prática não é em seu ideal. Para concluir, coloco aqui que não podemos aceitar que exu possa fazer o bem ou o mal dentro dos terreiros de Umbanda. Em nossa religião, exu faz exclusivamente o bem, pois trabalha nas linhas de lei, exu na Umbanda é Guardião de Lei trabalhando pela Luz, pela evolução e o bem da humanidade. Exu na Umbanda é uma entidade que, independente de ter ou não luz, possui o esclarecimento da lei de retorno e a certeza de que qualquer ação negativa realizada volta a quem pediu. Exu também é orientador, doutrinador e guia, se alguém pede algo de ruim a um exu dentro de um terreiro de Umbanda ele mesmo deve esclarecer, da sua forma, que isto não é bom nem para quem pede e nem para quem aceite realizar este pedido.

Sobre esta questão é fundamental a leitura do livro O Guardião da Meia Noite (Rubens Saraceni – Ed. Madras). 

Voltando ao assunto de entidades, espíritos e guias que assumem, guardam ou manifestam mistérios de Deus e suas divindades, podemos dizer que é algo muito similar ao que aconteceu na Igreja Católica. Os Santos assumiram os mistérios das divindades que são a sustentação de tudo que se realiza em nome deles. Muitos santos nunca nem existiram, foram fabricados, por este fato a igreja não reconhece mais alguns santos, como São Jorge, São Cosme e Damião, São Sebastião e outros, como Santo Expedito, que embora seja muito popular também é polêmico, afinal “expedito” não é nome e sim uma função de um oficial da guarda romana que ia à frente, corria, para levar e trazer notícias de um local ao outro.

Também já foram pensados sincretismos de santos com Orixá Exu, como o próprio Expedito, Santo Antônio, São Pedro e até Menino Jesus em alguns lugares do caribe, no qual exu não foi demonizado e guarda em um de seus aspectos a forma jovial e inocente, que justifica sua irreverência e traquinagens mitológicas. Algo semelhante se dá com Khrisna criança, que se diverte com as próprias estripulias ou com Hermes grego, que ainda criança faz mil e uma artes e até rouba os rebanhos de seu irmão Apolo.

No caso do Orixá Exu ou Trono da Vitalidade, trata-se de uma divindade que atua em todas as vibrações, em todas as linhas a partir de si mesmo ou por meio dos outros Orixás. Mas este já é assunto para outro texto, ou ainda para a leitura do Livro de Exu – O Mistério Revelado (Rubens Saraceni – Ed. Madras).

Quanto à Divindade ou Trono da Vitalidade, também assume nomes diferentes e formas variadas nas diversas culturas, para nós é Orixá Exu. Encontrar suas manifestações diversas é trabalho de pesquisa muito enriquecedor, pois estudar outras manifestações do mesmo mistério nos traz maior compreensão sobre o mesmo.


Por: Alexandre Cumino

Um comentário:

  1. Exu atua em nossas vidas quando estamos agindo de acordo com o a lei divina caso contrário si nós si perdemos e sofremos,
    Exu trabalha em nosso carma até evoluímos estou tentando entender...

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