Por: Fernando Ribeiro (Pirro D'Obá)
A CULTURA OCIDENTAL como a conhecemos, em sua formatação, tem suas bases mais sensíveis emolduradas sob o pensamento e a Filosofia Grega antes de Cristo.
Os filósofos gregos foram os primeiros seres humanos a não ocupar status de sábios, mas sim de homens a procura incessante pelo saber. Se antes deles os Sábios eram anciãos que procuravam através de lendas estruturar os ritos morais das sociedades a quais faziam parte; com os filósofos gregos começamos a nos interessar pelas classificações da natureza (Seja humana ou do meio ambiente).
Dessa forma, o movimento filosófico grego fez emergir ao cotidiano a filosofia e o filosofar num teor pragmático de CAUSA e EFEITO perante as questões que circulavam as civilizações antes ALEGORICAMENTE. Se antes, Mitos e Arquétipos serviam de base moral para a convivência entre os cidadãos, depois de Sócrates, Platão, Aristóteles, etc, pudemos vivenciar tempos de quebra nesse tipo de perspectiva de mundo.
Os filósofos quebraram a barreira intelectual que existia entre os mitos, os tabus e o cotidiano estruturando entre essa interligação leis CAUSAIS que ampliavam a percepção racional das questões humanas e cosmológicas..
A sociedade ocidental se formou dessa maneira. Através dos escritos gregos e suas primeiras teorias de questionamento a respeito do "STATUS QUO" e as ordens vigentes conseguimos abrir caminhos para as buscas científicas e teológicas que se desenharam durante o caminhar da nossa história.
Seja no Cristianismo que se instaurou na formação das monarquias europeias, ou com o movimento renascentista que fundou o pensamento contemporâneo, sempre houve dentro de nossa formação cultural no ocidente a preocupação dos pensadores com as esferas que compunham a relação dos seres humanos frente a seus dilemas, fascínios, loucuras, vícios e virtudes. A filosofia e seus métodos foram acoplados a vivência das pessoas resultando cada vez mais em ramificações do saber investigativo como: a BIOLOGIA, PSICOLOGIA, QUÍMICA...
Temos enraizadas na Cultura Brasileira religiões de matrizes africanas como Candomblé, Batuque, Catimbó, entre outras, e todas elas fazem questão de resgatar em suas teogonias, práticas e rituais um amplo conhecimento da raiz de suas formações, as lendas, as histórias, os fundamentos, de maneira muito parecida com as religiões gregas existentes na época dos filósofos. E assim, nossas religiões afros se apresentam antropologicamente no contato com seus seguidores e simpatizantes na simbologia de arquétipos e mitos como forma de explicação, exposição, de expressão de suas forças e razões.
A Umbanda, já em sua hibridez essencial com outras perspectivas religiosas, como Kardecismo, Cristianismo, Hinduísmo e as crenças Nagô e Yorubá, não conseguiu ao longo de sua cronologia se fixar apenas nos mitos e nos rituais descendentes para expressar sua força e expor sua razão de existir. Sendo assim, ela acabou recorrendo aos conceitos ocidentais de CAUSA e EFEITO existentes nas ciências humanas (HISTÓRIA, SOCIOLOGIA, GEOGRAFIA, FILOSOFIA, etc) para estruturar seu lugar dentro do meio urbano a qual sempre fez parte.
A Umbanda nasceu dentro de metrópoles, sendo que por mais autônoma que tentasse parecer, não conseguia esconder suas fontes africanistas, esotéricas, sincretizadas e esboçadas em teorias espíritas das mais variadas vertentes. E uma das fontes que acabou a tornando ainda mais ampla e universalista em sua execução e idealização, foi o seu encontro com as maneiras pragmáticas dos antigos filósofos gregos, que por não encontrarem nos mitos, arquétipos e rituais a profundidade cosmológica total de sua existência, recorreram a pesquisas de causalidades e eternos questionamentos baseados em metodologias investigativas para obter respostas históricas, geográficas e científicas coesas que pudessem agregar aos fundamentos já instaurados.
Na Umbanda se discute diferenças e distanciamentos entre as classes sociais e seus motivos, conceitos encontrados em KARL MARX e MAX WEBER. Na Umbanda se discute a formação do homem como correspondente a contingências biopolíticas, conceito encontrado em MICHEL FOUCAULT. Na Umbanda os mitos e arquétipos são discutidos a luz de conceitos estudados por CARL GUSTAV JUNG. Na Umbanda se discute a formação do povo brasileiro assim como DARCY RIBEIRO e GILBERTO FREYRE. Na Umbanda se estuda sobre as plantas e ervas e suas categorias metafísicas, conceito presente em ARISTÓTELES. Na Umbanda se discute a distinção do real e do aparente assim como PLATÃO. Na Umbanda se discute o lugar e as problemáticas existenciais do ser humano no mundo, conceitos presentes em SARTRE e outros filósofos existencialistas. Na umbanda se discute a criação do mundo de uma forma evolucionista e natural, conceitos presentes em CHARLES DARWIN, THOMAS HOBBES E JEAN JACQUES ROUSSEAU.
Ou seja. Se existe uma resposta para aquela antiga pergunta a respeito do que a Umbanda carrega em si que a diferencia das outras religiões de matrizes afro, é isso! Seus elementos formais estão sempre em pauta sob o julgo e análise de perspectivas filosóficas aos moldes dos pensadores sociais e filósofos das ciências humanas, sociais e naturais que viveram suas vidas na modelação intelectual da civilização ocidental.
Nem tudo na Umbanda se apresenta só como crença, existe nela uma profunda preocupação de saber o que se faz, porque se faz e pra quem se faz unindo quando necessário metodologia científica de investigação. E pra isso, não é só no sincretismo católico, no kardecismo e nas raízes afro que ela vai bebericar na fonte, mas também em perspectivas racionais e reflexivas tão antigas como a filosofia grega e seus métodos, que se perpetuam até hoje nas mais variadas formas de pensamento e investigações científicas, inclusive na perspectiva Umbandista.