Na História da Umbanda temos inúmeros personagens importantes que desempenharam papéis primordiais para consolidação de nossa Religião. Nomes como Leal de Souza, que foi um dos primeiros autores a falar de Umbanda; Zélio Fernandino de Moraes, que foi o próprio fundador de nossa religiosidade; Benjamin Figueiredo, que trouxe uma ritualística e liturgia própria para a Umbanda; Tata Tancredo, representante das perspectivas africanistas da Umbanda; W. W. da Matta e Silva, responsável por introduzir com profundidade a influência esotéria na religião.
São inúmeros personagens além desses citados, alguns mais conhecidos, outros voltados a iniciações mais reservadas, alguns mais engajados socialmente, outros mais voltados a perspectivas intelectuais.
O fato é que se pesquisarmos veremos que tem muita coisa a ser lida e investigada para quem quer entender o que é Umbanda. Nossa religião teve seu ápice na década de 60 e 70, período em que vivenciou um frescor social entre as outras perspectivas teológicas existentes conforme nos aponta os estudos de Alexandre Cumino. Foram décadas áureas em que víamos a Umbanda sendo retratada em músicas, na televisão, no rádio sem nenhuma vergonha ou culpa diante do que pensavam os outros.
Porém, aconteceu já no fim da década de 70 e início da década de 80 um evento muito parecido com o que tem acontecido atualmente com pastores evangélicos. Muitos Sacerdotes de Umbanda começaram se envolver na política, como vereadores, deputados, etc. E essa integração não deu muito certo; escândalos de corrupção fizeram com que a imagem da Umbanda fosse manchada entre o senso comum. Pessoas que tinham certo preconceito para com a nossa fé potencializaram ainda mais seus pré julgamentos, muito influenciados por essa transitação de umbandistas entre o meio político.
E entre esse período que se estendeu até o início da década de 90 passamos pelos tempos escuros do qual muitos irmãos mais antigos e experientes de terreiros nos contam. Tempo em que fomos mal tratados pela sociedade, fomos vítimas dos mais diversos preconceitos.
A Umbanda sobreviveu graças as pessoas que mesmo com todas as adversidades e complicações ainda foram fortes pra bater no peito e continuar com o Axé. Dentre esses personagens, um que merece imenso destaque é Rubens Saraceni. Um mestre que podemos afirmar como sendo o renascentista da Umbanda no Brasil. Numa década turbulenta como foi a década de 90, surge ele com novos conceitos unidos a perspectivas tradicionais, causando uma revolução de pensamento nos praticantes de Umbanda.
Se fizermos um comparativo da importância dos personagens da Umbanda com os personagens da História da Humanidade, Rubens Saraceni seria uma mistura de [Francis Bacon, Montaigne, Da Vinci e Shakespeare].
A Renascença foi um movimento histórico que trouxe ao homem os escritos e as ideias gregas que na era medieval ficaram escondidas pelos sacerdotes católicos. Os renascentistas traduziram tais obras para as línguas de seus países e a partir dessas traduções exercitaram suas próprias maneiras de repensar o mundo e as coisas.
Rubens Saraceni na Umbanda fez o mesmo. Trouxe a nós a Teologia de Umbanda como saber “intelectual e empírico”, uniu “tradição e inovação”, mostrou que para praticar umbanda não bastava estar no sangue mas que seria preciso também estudo e aprofundamento. Rubens fez renascer em muitas pessoas a necessidade de estudo e pesquisa.
Rubens Saraceni foi o renascentista da Umbanda que deu fim a Era escura que nossa religião passou por conta de atitudes e posturas impensadas de pessoas que ao invés de lutar pela religião e seus irmãos, preferiram se envolver com propinas, corrupção. Rubens não! Ele inverteu essa lógica, mostrou que a prioridade para o umbandista é o estudo, acima de tudo o preparo de si mesmo.
Colhemos com isso muitos frutos, quem conheceu Rubens como eu, quem teve acesso aos seus ensinamentos, quem teve a oportunidade de ler seus livros ganhou a capacidade intelectual de defender a Umbanda contra o preconceito social. Antes do Rubens éramos julgados por pessoas que não sabiam o que fazíamos. Depois dele, começamos a explicar aos preconceituosos o que fazíamos com qualidade, com profundidade, com destreza.
Rubens codificou a Umbanda, facilitou seu entendimento, catalogou os saberes da magia, da espiritualidade, da teologia, de tudo que está presente em nosso Axé. Falou de arquétipos, símbolos, mitos. Apresentou a Umbanda como saber extremamente científico, não a limitando apenas como crença.
Na história da Humanidade, após os renascentistas surgiram então os iluministas; o iluminismo que foi um movimento gerado por pensadores influenciados pelos escritos daqueles que trouxeram os saberes antes escondidos. Tais iluministas como Charles Darwin com a teoria da evolução das espécies, Isaac Newton com as leis da física, Descartes e Kant com a proposta da razão, Hume com o empirismo.
Na história da Umbanda, hoje surgiram os iluministas. Os iluministas umbandistas! Que a partir de saberes renascidos do Pai Rubens Saraceni são capazes de articular com senso crítico muitos pontos a respeito da religião. Ganhamos a capacidade de problematizar as questões que nos envolvem. Alguns fazem tratados históricos de nossa religião, outros propõem uma visão filosófica e sociológica de nossos processos, outros buscam um aprofundamento científico, outros falam sobre a Umbanda pela ótica do Direito, outros abordam temas pertinentes aos nossos costumes e rituais explorando as redes para propagar nossa cultura.
A verdade é que o renascimento umbandista que veio a tona com Rubens surtiu efeito. E hoje os “Umbandistas Iluministas” fazem a diferença. Vivemos mais uma vez a ascensão de nossa cultura, e pelo fato de estarmos fazendo isso com “conhecimento e saber”, nos dá a possibilidade de retaliar quem ousar sair do caminho. Quem usa nosso axé para ganhar dinheiro já não consegue sujar nossa imagem como antes, quem usa nosso axé para ganhar propinas, favores ou votos não transita entre nós com a mesma facilidade de antes. Tudo isso pelo fato de estarmos mais críticos, por termos nas mãos os valores implantados pelo Pai Rubens.
Se tem algo que digo quando me perguntam da importância de Rubens Saraceni na Umbanda, é isso. Sua implementação de uma nova postura diante da realidade, a inversão de prioridades. Saber acima de qualquer coisa. Foi um renascentista que oxigenou historicamente nossa religião, promoveu e construiu as bases para que pudéssemos hoje respirar com mais orgulho e tranquilidade.
Tem muito a ser feito ainda! Estamos no caminho certo na paz de Oxalá!!
Saravá a Renascença Umbandista!
Saravá ao Iluminismo Umbandista!