Avançando um pouco na série "Vertentes de Umbanda", chegamos ao nosso quarto "encontro" com a delicada missão, tratarmos a Jurema Sagrada dentro da dinâmica Umbandista ou vice e versa. Em breves parágrafos delinear aos leitores conceitos básicos e imprescindíveis sobre este universo será nossa missão, salientamos que este exercício é apresentado pelas informações colhidas por diversas fontes e representam nosso particular entendimento.
O Xamanismo, assim como Pajelança são tradições culturais indígenas que expressam o mundo místico e religioso destes povos, foram as orientações ou condutas que acompanharam as tradições de diversas tribos e sob diversificados ângulos e práticas antes mesmo dos conquistadores europeus se instalarem em nosso território, bem como a chegada dos africanos escravizados que forçadamente foram traficados por estes.
No culto místico e tradicional nativo/indígena, a utilização dos elementos da natureza estava centrado, sobretudo, no conhecimento e nas manipulações de raízes, ervas, folhas, minerais entre outros tantos possíveis... Era desta relação que esses povos se relacionavam com o sagrado, que variavam desde rituais festivos aos de curas. Sendo exatamente neste contexto que encontramos a culto a Jurema.
Da cultura e ritualização nativa que tinha por base a utilização da erva sagrada da Jurema (Acácia Nigra), mais presente no nordeste do Brasil, com maior ascendência no estado da Paraíba, mas também encontrada em Pernambuco entre outros estados, nascia um culto miscigenado após a ocupação de povos estrangeiros, por tradições índias com elementos europeus e africanos, pois, a figura do caboclo ou o do chamado homem "simples", curandeiro e benzedor que atendia aos necessitados era o esteriótipo apresentado pela religião ou culto. Das várias espécies de Jurema existentes, sua utilização era "ferramenta" imprescindível e ponto central do rito, tudo era aproveitado desde a raiz até as folhas na preparação de banho, infusões, unguentos e bebidas, acrescida de incorporações e rituais musicalizados, nascia então o tão conhecido Catimbó da Paraíba que unia o que muitos pesquisadores chamam de "amalgamas culturais-religiosos" entre os índios,europeus e negros.
JUREMA SAGRADA E UMBANDA SE ENCONTRAM...
As heranças culturais místicas e xamânicas dos nativos, além dos sincretismos afro-europeus associados que culminaram nos cultos de Catimbó foram diretamente de encontro com a então religião nascente do século XX, a Umbanda, no excelente artigo A Jurema Sagrada da Paraíba, da Profª. Dª. em Ciências Sociais e Antropologia Idalina Maria Freitas Lima Santiago, observamos quando e por quais motivos a Umbanda cruzada com Jurema iniciando mais um processo de criação, que hoje denominamos como uma das vertentes de nossa religião:
"Em meados do século XX, no Estado paraibano, ocorre a aproximação do Catimbó com a Umbanda em virtude do movimento de expansão desta pelo país. Assim, foi se delineando a Umbanda cruzada com Jurema como resultado da junção dos rituais da tradição juremeira/catimbozeira com a Umbanda trazida oficialmente para o referido Estado nos fins de 1960. Até essa época predominava na Paraíba a pratica do Catimbó, tratado como caso de polícia..."
A tradição que une a Umbanda com o Catimbó ou Jurema, é muito presente ainda no nordeste brasileiro, principalmente na Paraíba, mas pode ser encontrada em outros estados da região. Se analisarmos a Umbanda como movimento religioso e social, encontraremos nela, adequações ou metamorfoses que se alinham com as mais variadas formas de apresentação e meios sociais, para deste modo atender o maior número de consciências possíveis, lembrando sempre o caráter inclusivo nela presente. É exatamente, o que ocorreu, no casamento Umbanda e Jurema, a reinterpretação dos cultos deu vazão para a continuidade de uma tradição popular focada na evolução e conscientização humana.
No blog do Grupo de Umbanda Triângulo da Fraternidade, presidido pelo escritor e sacerdote Norberto Peixoto, encontramos uma breve explicação no artigo intitulado A Umbanda Juremeira que justifica nosso entendimento acerca da mistura dos cultos, o artigo tem por base um trecho do livro "Reza Forte" onde questões elucidativas são respondidas pela entidade Pai Tomé...
"As formas são distintas, com objetivos as vezes diferentes, mas sempre objetivando a cura e o alento dos cidadãos menos favorecidos. A Umbanda Juremeira é a prática da Umbanda com fortes influências do ritual de Jurema sincretizado, espiritismo e catolicismo aos moldes da Umbanda popular praticada na região sudeste, com a veneração aos orixás e a Jesus – o divino Oxalá..."
Neste processo, ambos os movimentos, absorveram características que genuinamente não os pertenciam, como por exemplo, a incorporação de outras entidades espirituais por parte do Catimbó que não fossem apenas "Mestres Juremeiros" ou "Caboclos", a presença dos arquétipos como os Preto-Velhos, Baianos, Marinheiros, Exús, Pomba-Giras entre outros, acresciam o universo de falangeiros "admitidos" em seu contexto. Por outro lado, na Umbanda, mesmo com todo o conhecimento que o culto estava focado nas forças e potencialidades dos recursos naturais e espirituais, os termos da "Sagrada Jurema" foi assimilado em pontos cantados e riscados, além de atribuídos aos nomes simbólicos dos guias espirituais ou falangeiros. Talvez o exemplo mais expressivo desta convergência, trata exatamente de um dos mais conhecidos Guias Espirituais, Sr. Zé Pelintra, no Catimbó é "Mestre" curandeiro, rezador e erveiro, já na Umbanda apesar de trazer características similares, apresenta-se geralmente sob a forma de Malandro, inclusive muitas fontes sugerem à ele o encabeçamento desta linha nas lides umbandistas.
Por fim, para nós fica claro que a junção entre Umbanda e Jurema, quando atendem premissas básicas, de atendimento gratuito visando o auxílio o próximo e busca o aprimoramento humano frente as adversidades do plano terreno, sem dúvidas está autenticamente dentro dos padrões estabelecidos pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. A todos nós reconhecermos o movimento "Umbandista Juremeiro" é confirmação de não estarmos atrelados apenas a algum "nicho" umbandista de mentalidade restrita e desinformada, que nada comunga com os ideias de liberdade de expressão e pensamentos próprios da Umbanda.
Fonte. nomundodasumbandas.com.br