1 de abr. de 2016

Arte e Poesia umbandista em meio ao caos


Um dos grandes conflitos existenciais que o umbandista tem de lidar ao longo de sua caminhada dentro da religião é o fato dele ver o “sagrado” onde os outros não veem nada.

O mundo contemporâneo se mecanizou e os números é que cada vez mais estabelecem as relações entre as pessoas. E isso contribui para um individualismo do ser humano que estuda para ter um emprego, e transita nos seus trabalhos em meio a competições e lutas por melhorias salariais. Tendo ambições de obter uma casa, ou um apartamento, com muros que proteja do mundo lá fora, que separe o que é seu do que é dos outros, se conectando com o mundo apenas pela tv, dos celulares, do rádio... sem nem os vizinhos conhecer direito.

As notícias de violência, casos de depressão, poluição ambiental, entre tantas questões negativas que contextualizam o mundo contemporâneo numa crise sem igual retrai o ser humano, que em contrapartida busca nos bens materiais e no “status” uma forma de se sentir vivo e importante.

A vida em sociedade tem feito com que os seres humanos se adaptem ao meio hostil pelo seu embrutecimento moral, espiritual e filosófico; e dessa forma, quanto mais uma pessoa se sente superior a outra é que enxerga sua vida seguindo pelo lado “certo”. O sucesso para muitos é ver a ruína do próximo em detrimento a sua ascensão social e econômica.

A prioridade do mundo, de seus líderes políticos, das empresas de um modo geral é ganhar e obter o lucro, tendo a perspectiva econômica em primeiro lugar. E dessa forma, pelo fato do ser humano estar inserido nesse contexto, acaba então absorvendo essas mesmas prioridades, sendo influenciado pelas propagandas de que para ser feliz é necessário ser abastado financeiramente e juntar o máximo de bens materiais possível.

As estruturas da sociedade encontram-se doentes, sejam elas políticas, econômicas e humanas. Ao mesmo tempo que a modernidade trouxe melhorias e confortos, ela também ajudou na acomodação dos seres humanos numa vibração limitada a respeito de sua missão dentro do contexto social ao qual faz parte.

E em meio a essa realidade, o umbandista se vê numa missão quase “quixotesca”. Onde ele tenta numa luta mágica efetuar uma inversão desses valores atuais cultuados, colocando o amor e a caridade a frente do individualismo e da ganância, e dessa forma encarar a realidade de maneira carismática, sendo muitas vezes visto como um “romântico” e até um “iludido” por seguir princípios e posturas que não são facilmente reconhecidos pela sociedade cada vez mais propensa ao egoísmo.

Tendo em vista que a medida para muitos é que “tempo é dinheiro”; fazer o bem gratuitamente, fornecer conhecimento gratuitamente, doar tempo do seu dia gratuitamente, tudo isso é impensável para grande parte das pessoas que não veem a espiritualidade e o bem do próximo como coisas importantes. E mesmo assim, sendo vistos como ingênuos, ou até como utópicos, o umbandista é capaz de ver positividade onde muitos veem um vazio de sentido.

A verdade é que o umbandista procura não se ocupar com o “concreto” da vida em sociedade.

Analisando por um viés antropológico, as pessoas encontram-se tomadas pela vida intensa e obsessora na cidade, abatidas pelo cinza das ruas, das avenidas, dos prédios, dos muros e até pelos conflitos rotineiros com os outros que habitam os mesmos ambientes. As pessoas estão machucadas e doentes por toda essa esfera.

Já o umbandista, é capaz de ver magia num céu azul, num arco íris, numa árvore, num jardim, num chafariz. Ele transcende a realidade, dando significado cármico as relações, e sempre que pode foge para um campo de força da natureza que lhe traga o axé de um Orixá que goste muito. Uma cachoeira, o mar, uma pedreira, um lago... De braços abertos o umbandista espera os atuais “doentes sociais” chegarem aos terreiros pedindo ajuda por não estarem conseguindo ver sentido numa vida profissional que não os satisfazem, numa relação baseada e vaidade e orgulho, ou até por não verem no mecanismo social um lugar habitável e viável para seus desenvolvimentos intelectual e humano.

Esse mundo machuca, e de maneira direta ou indireta ele repele o amor em favor das cobranças truculentas impostas as pessoas. São provas todos os dias, na família, nos estudos, no meio profissional. A todo momento a vida em sociedade expõe os seres humanos a traumas e situações corrosivas. E com o passar dos anos cria uma espécie de “identidade social” que para se adaptar a essa realidade frustrante se impõe com rancores e ódios. O ser humano que se adapta ao cinza das cidades na maioria das vezes traz esse perfil rancoroso e ácido em sua rotina. Não crê no amor, e muito menos enxerga a igualdade entre os próximos de maneira positiva.

E em meio a esse caos urbano que se estabelece cada vez mais entre os seres humanos, o umbandista faz sua poesia, sua arte.

O umbandista é alguém que acredita no amor num mundo em que isso não é prioridade.


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