A intolerância passa a existir quando a crença e a convicção
da verdade se abala diante do questionamento que busca um momento de sabedoria.
A arrogância e a cólera são frutos do medo do questionamento que revela
ignorância, despindo assim a indumentária ou vestimenta "sacra" que
encobre com a soberba a alma frágil, que trêmula recorre a violência, qualidade
ímpar nos animais irracionais.
A intolerância advém do rei que se vê desafiado diante do
questionamento do súdito, justamente por se achar superior. O questionamento só
é visto como desafio quando o questionado ao ser interpelado pelo seu
interlocutor vê suas verdades diluídas diante do mundo que evolui
incessantemente, e dessa forma reage violentamente com as armas que protege seu
ego inflamado pelo suposto "desafio" e dispara acovardado: “seu
Negro” (crítica sustentada por uma crença em uma raça superior), “seu pobre”
(crítica sustentada por uma crença em uma classe social superior), “sua puta”
(crítica sustentada por uma crença em uma conduta superior), “seu macumbeiro”
(crítica sustentada por uma crença em uma religião superior), “seu viado”
(crítica sustentada por uma crença em uma relação afetiva superior),
“empregada” (crítica sustentada por uma crença em uma profissão superior),
“nordestino” (crítica sustentada por uma crença em uma cultura superior),
“cabelo de bombril” (crítica sustentada por uma crença em uma beleza capilar
superior), etc.
Pronto! Eis que nasce a intolerância gerada no ventre da
verdade inquestionável e absoluta, fundamentada no medo e no temor, inflamada
pelo ego que travestida de humildade e ecumenismo hipócrita se enaltece nos
holofotes direcionados ao púlpito.
A intolerância nasce do reativo, nasce daquele que por ser
"brocha" pauta sua existência julgando a vida dos outros; ela, a
intolerância é fruto da ação alheia e fica a espreita de uma ação externa, pois
não vive com sua energia, ela se alimenta da ação dos outros. Num mundo plural,
haja visto a fauna, a flora e a "digital do dedão", que por ser
única, individualiza tudo. Não existe uma digital igual a outra, sendo assim,
não existe um ser humano igual ao outro e não existindo um ser igual ao outro,
não existe uma crença igual a outra. Ou seja, é na singularidade de cada um que
nasce a pluralidade, e o respeito é regra básica e prova de sabedoria, pois nos
reconhecendo como singulares e ímpares, resta-nos aceitar e compreender a nossa
diferença diante do mundo e a diferença do mundo diante de nós.
"Não somos iguais a ninguém e por isso devemos
respeitar indistintamente"... É justamente por não sermos iguais a ninguém
que somos singulares.
A igualdade sempre “deve ser” perante ao singular. Somos
iguais quando reconhecemos no outro o direito de ser quem ele é. Tal como no
corpo biológico existe o coração e o intestino que são singulares pois
desempenham funções diferentes, porém se são singulares tendo cada um a sua
particularidade, eles se igualam na manutenção vital do corpo.
Sendo assim, concluímos que a diferença é necessária e vital
para evolução da sociedade, desde que voltada ao bem comum, tal como o coração
e o intestino, que embora sejam diferentes no particular, se igualam no
coletivo, pois ambos estão voltados para a manutenção do bem comum do corpo.
Cada um que exerça sua liberdade como bem entender, mas que
essa mesma liberdade não seja o constrangimento da liberdade alheia.
Por: Pablo Araújo de Carvalho