Muito falamos sobre caridade na Umbanda, Certo? Mas que
caridade é essa?
Não são raros os que querem e dizem que precisam praticar a
caridade. E por caridade fica subentendido trabalhar em giras no terreiro
incorporando uma entidade e dando consultas e passes aos consulentes.
Mas seria isso a caridade? Não estaria faltando algo a mais
nessa perspectiva?
O mundo mudou, e a Umbanda deixou de ser uma religião
marginalizada como antes, e hoje pode falar por si e pelos seus adeptos com
orgulho de ser uma das únicas religiões genuinamente brasileira. Os
umbandistas não se encontram mais a mercê de julgamentos de crentes de outras
religiões logo que o conhecimento está acessível a todos, e chamar Umbanda de
magia negra, coisa do demônio, manifestação de espíritos do baixo astral nada
mais é hoje do que única e exclusivamente anacronismo.
Sim anacronismo, uma falsa análise baseada em preconceitos
antigos e arcaicos, pois a Umbanda hoje ganhou seu espaço, tem intelectuais,
livros, revistas, jornais, muitos meios de se posicionar e mostrar seu conteúdo
de forma abrangente e lutando pelo seu espaço e dignidade dentro do ambiente
social e político
.
O umbandista hoje explica o que é Umbanda ao invés de ouvir
de quem não a conhece o que ela é. Antes éramos julgados por moralismos, hoje
nós lutamos intelectualmente contra esses moralismos apoiados na constituição e
no discernimento dos nossos direitos.
Pois bem, o mundo mudou, o perfil do umbandista mudou. Mas e
a caridade?
A caridade foi e continua sendo a prioridade dos
umbandistas, porém ainda existem pessoas que reduzem o significado do que isso
representa.
Se conversarmos com qualquer membro mais velho de
um terreiro, ele nos dirá que o que se faz na Umbanda socialmente é
colocar em prática o evangelho de Jesus Cristo. Ou seja, nós umbandistas não
lemos a bíblia de cabo a rabo e nem a levamos debaixo do braço, apenas
identificamos o que Jesus praticou em vida e tentamos fazer igual.
Assim, buscamos ser humildes como Jesus foi, buscamos fazer
o bem sem olhar a quem assim como Jesus fez, buscamos dar de graça o que temos
sobrando assim como Jesus deu, buscamos repartir o que estiver contado ou até
faltando assim como Jesus repartiu, buscamos largar os vícios e rancores para
tentar nos sublimar perante ao mundo e as pessoas assim como Jesus sublimou.
Tá, mas onde entra caridade aí? Pois é... Para muitos isso
tudo que aprendemos sobre a postura de Jesus em vida pode não representar muita
coisa, mas isso é a caridade da Umbanda. É essa a essência maior de nossa
doutrina.
Incorporar entidades, vestir o branco, fazer preceitos e
rituais, isso tudo é secundário. A religião só cumpre seu papel caso nos torne
seres humanos melhores. Ir ao terreiro uma vez por semana não garante que
sejamos boas pessoas a semana inteira, logo que se não ampliamos o conceito do
que significa caridade ficamos achando que ser umbandista é simplesmente uma
questão de troca, de barganha. Vou ao terreiro, atendo e vou embora, e durante
a semana o astral se encarrega de fazer o resto. Não!!!
Se você sorri de graça na gira, porque não sorrir de graça
durante a semana? Se você abraça de graça durante a gira, porque não abraçar de
graça durante a semana? Se você trata crianças, adultos e idosos com carinho na
gira, porque não os tratar bem durante a semana?
A caridade acima de tudo é se doar o tempo todo, não apenas
em quatro dias durante o mês.
Ninguém precisa ser santo, anjo ou algo do tipo. Mas ser
umbandista é se vigiar, tentar se tornar cada vez mais uma pessoa melhor do que
foi ontem, do que se é hoje.
O mendigo chega no terreiro e você dá consulta, dá o passe.
Mas se esse mendigo durante a semana te pedir um trocado você fechará o vidro
do carro?
Muitos dos que chegam na Umbanda vieram justamente por não
entender direito o mundo que se encontra cada vez mais caótico. Lutas
hierárquicas, conflitos sociais, políticos, problemas diversos que nos mostra o
quanto a sociedade contemporânea se encontra doente. E na Umbanda todos buscam
a redenção, todos buscam uma elevação que no trabalho e na cidade dificilmente
se encontraria.
Pois é, como agentes sociais nós umbandistas somos
remediadores das cicatrizes da sociedade. Nossa caridade acima da incorporação
é dar a quem tem fome, apoiar a quem é discriminado seja pela cor, pela opção
sexual, pela classe social, ou qualquer desenquadramento que essa doentia
sociedade tem dificuldade em aceitar.
Não adianta vestir o branco e se dizer caridoso se lá fora
você pesa se o que tem fome é ou não merecedor de um prato de comida, de um
cigarro, de um troco. Não adianta vestir o branco e se dizer caridoso sendo que
não aceita as pessoas que carregam outras opções de vida que não sejam a sua.
Ser caridoso é aceitar tudo isso sem alimentar pendores moralistas.
A Umbanda aceita a todos, ela te aceitou num momento de
dificuldade onde o mundo talvez sem ela não estava lhe fazendo sentido. Como
filho de uma mãe que lhe acolheu a maior prova de sua gratidão é abraçar aos
outros irmãos independente de qualquer coisa. Isso é caridade, algo as vezes
mais ligado a postura benevolente para com a sociedade e as pessoas do que
simplesmente arriar no terreiro.
A caridade é olhar ao próximo como a si mesmo... Se doar ao
próximo como a si mesmo... De graça e entendendo o seu papel dentro da Umbanda
e tendo profundo conhecimento do que representa a Umbanda na história e no
contexto atual de nosso país.
Está difícil viver em sociedade, e o umbandista é o remédio
para essa dificuldade. Sejamos amplos em nossa caridade!!!
Umbanda é paz e amor.
Axé irmãos!!! Saravá!!!!!!!