A palavra Ogã vem do Yorubá e significa Senhor da Minha
Casa. Não é para menos, pois o Ogã – médium responsável pelo canto e pelo toque
- ocupa um cargo de suma importância e de responsabilidade dentro dos rituais
de Umbanda, que é o de conduzir a Curimba – conjunto de vozes e toques do
atabaque - ajudando nos trabalhos espirituais para que possam ser fortes e
bonitos. Os ritmos (toques) e cantos realizados pelo Ogã, pode-se dizer que nos
dias de hoje, são parte integrante de um Centro de Umbanda.
Os atabaques – instrumento de percussão - sempre foram alvos
da polícia baiana e estavam terminantemente proibidos de serem tocados em
Terreiros. Aproveitando uma viagem ao Rio de Janeiro a até então desconhecida
Mãe Aninha, zeladora da casa de candomblé Ilê Axé do Opô Afonjá em São Gonçalo
do Retiro, decidiu solicitar uma reunião com Getúlio Vargas, que na época
ocupava o cargo da Presidência do Brasil. Nessa reunião foi discutido o assunto
sobre os atabaques nos terreiros, pois como dizia Mãe Aninha, para dar originalidade
e ritmo às festividades era preciso os instrumentos de percussão.
Ela fora tão determinada que conseguiu "arrancar"
de Getúlio Vargas um decreto que liberava o uso de atabaques em Terreiros. Este
ato, foi considerado um grande passo para o Culto de Nação no Brasil, que de
pouco a pouco ganhava espaço na sociedade brasileira. Esse acontecimento foi
recebido com grande festividade pelo povo de santo, principalmente na Bahia,
onde foi comemorado com a famosa festa da Lavagem da Escadaria do Senhor do
Bonfim.
O responsável pelo toque, o Ogã, tem de ser bem preparado e
Coroado como Ogã para exercer tal função em um Terreiro, pois além de serem
médiuns intuitivos, são Sacerdotes natos, aqueles que nascem com a função de
falar por um Orixá, de serem um instrumento puro dos Orixás e fazem isso
através de suas mãos e cantos.
O Ogã é um canal aberto para muitas linhas de trabalho da
Umbanda que trabalham ativamente através dele, são linhas de caboclos, exus,
pomba-gira, que por motivos próprios trabalham nos "bastidores", sem
incorporarem ou tomarem a "linha de frente" dos trabalhos
espirituais. Formam uma corrente de espíritos que auxiliam nos toques e cantos
da curimba, são mestres na música de Umbanda, verdadeiros guardiões dos mistérios
do "Som".
Muitas são as funções que os pontos cantados têm.
Primeiramente uma função ritualística, onde os pontos "marcam" todas
as partes do ritual da casa. Assim temos pontos para a defumação, abertura das
giras, bater cabeça, chamada, subida, sustentação dos Guias e fechamento de
gira. Uma outra função importante é de emitir ondas energéticas pelo som do
atabaque e pelos cantos que servem para diluir algumas energias astrais
negativas que não fazem bem ao médium.
A curimba é um verdadeiro "polo" irradiador de
energia dentro do Terreiro, potencializando ainda mais as vibrações dos Orixás,
ajudando os médiuns tanto na hora das incorporações, desincorporações e da
firmeza de um trabalho. A curimba, por si só, emite energia suficiente capaz de
descarregar um médium ou uma Casa. Por isso a curimba deve sempre estar em
sintonia com os Guias Espirituais, com os Orixás e com o Dirigente do trabalho.
O Ogã deve estar sempre pronto e procurando aprender mais e
mais. Sempre com amor, pois quando vibramos de coração, os cantos atuam sobre
nossos chacras, ativando-os, e deixando-nos em total sintonia com a
Espiritualidade Superior. Os pontos transformam- se em "orações
cantadas", ou melhor, verdadeiras determinações de magia, com um altíssimo
poder de realização, pois é um fundamento Sagrado e Divino. Poderíamos chamar
tudo isso de "magia do som" dentro da Umbanda, pois não é
simplesmente evocar uma Divindade, mas é chamado de magia por envolver toda uma
"cadeia" onde o som da curimba atua nos médiuns positivando- os e
equilibrando-os.
Infelizmente, não temos visto nos templos de Umbanda uma
preocupação com a qualidade da curimba, ou seja, com o conjunto de vozes e
toques de atabaques. Há templos em que os atabaques são "tocados" com
tanta força que parece que os Ogãs estão descarregando sua energia e
sentimentos negativos nos couros dos instrumentos e não é possível ouvir as
letras dos pontos cantados e, às vezes, nem mesmo a melodia. Em outros lugares,
há uma preocupação com a afinação, mas há negligência quanto aos ritmos e
instrumentos ou, então, os atabaques são muito bem tocados, mas o canto é
completamente desafinado. Pior, ainda, é quando não se prioriza nem uma coisa
nem outra, porque na verdade é o conjunto em que um completa o outro, formando
uma grande Harmonia.
É válido lembrar também, que esses problemas de musicalidade
são percebidos por muitos frequentadores que, além do "stress"
auditivo, saem comentando a desarmonia, o que pode desprestigiar a Casa e a
comunidade umbandista, em relação ao nível de excelência que deveria ser
alcançado. A
Axé Irmãos! Que possamos ter em nossa Umbanda uma religião
digna de belos ritmos, com muita vibração, harmonia e irradiação Divina.
Por: Gustavo Reis