31 de out. de 2016

Uma Cosmogênese Umbandista - Por: Rubens Saraceni

A Umbanda é uma renovação do tradicional culto às divindades africanas, englobados na classificação “cultos das nações”, assim denominado porque cada povo possuía sua religião própria, com seus ritos específicos, mas que mantinham uma analogia muito grande, tanto na preparação sacerdotal quanto organizacional, de seus panteões divinos.

Com o passar dos anos o Panteão Nagô dos povos nigerianos ou de língua Yorubá acabou se destacando no Brasil e se impondo sobre os demais, pois os Orixás popularizaram-se com a vinda de muitos escravos nigerianos, trazidos principalmente para a Bahia a partir do final do século XVIII e início do século XIX.


Sua classe sacerdotal era mais organizada e destacou-se muito rapidamente e mais ainda no decorrer dos séculos XIX e XX, espalhando o Culto aos Orixás para todo o Brasil, adaptando-os conforme foi possível e procurando conservar o máximo possível do conhecimento sobre eles.

Sendo a transmissão oral a forma que possuíam para preservarem o conhecimento, muito se perdeu sobre os Orixás e só uns poucos deles tornaram-se bem conhecidos e tiveram seus Cultos tradicionais preservados desde 1780 até 1908, quando foi fundada a Umbanda por Pai Zélio de Moraes.


Assim, muitas das coisas que se sabia sobre eles dentro dos seus cultos tradicionais na Nigéria não chegaram até nós ou haviam sido adaptadas conforme foi possível. Daí, para os primeiros umbandistas, não havia muito sobre os Orixás à disposição, e se um Caboclo identificava-se como de Ogum, de Xangô, etc, os seus médiuns ficavam sem muitas informações seguras sobre esses Orixás, e quase todos recorriam aos santos católicos sincretizados com eles como forma de conhecê-los.
E os santos católicos tiveram suas historias popularizadas pelos umbandistas, que as passavam de mão em mão para poderem ensinar os novos médiuns, sendo que os santos sincretizados com os Orixás tornaram-se muito populares e muito cultuados no Brasil devido à compra de suas imagens para os altares umbandistas.

Esse conhecimento bem “terra” sobre os Orixás predominou no 1º século de existência da Umbanda, graças ao sincretismo e ao que se sabia sobre os santos católicos. 
Aos estudiosos da Umbanda, basta consultar os livros de muitos autores umbandistas para confirmarem o que até aqui afirmamos.

Não havia um conhecimento profundo sobre os Orixás, e o que se sabia ou se escrevia sobre eles não saía desse nível “terra” do conhecimento. Antes de terem se espalhado pelo mundo todo, os Orixás só haviam sido cultuados pelos povos Nagôs ou Nigerianos... E na língua Yorubá.

Mas um conhecimento novo sobre os Orixás começou a ser aberto por um espírito chamado “Pai Benedito de Aruanda”, e ensinado por seu médium psicógrafo e fundador do Colégio de Umbanda Sagrada. E isso, sem que ele fosse Teólogo ou formado em qualquer Escola Iniciática, Esotérica ou Ocultista, mas criando uma base para o estudo doutrinário e teológico umbandista.

Toda religião tem sua cosmogênese ou gênese divina, que descreve para os seus seguidores a forma como Deus criou o “mundo”. 

A Umbanda por ser a somatória de várias doutrinas e rituais religiosos, tanto pode escolher a cosmogênese dos povos Nagô, quanto aos Cultos Indígenas Brasileiros, assim como pode servir-se da Judaica, incorporada pelo Cristianismo, pois essas três religiões estão presentes devido à manifestação dos Caboclos e Pretos-velhos, dentro de uma moral Cristã.

Também pode recorrer à cosmogênese da última religião de guias espirituais hindus, chineses, etc. Mas sempre será uma adaptação de cosmogêneses alheias, muitas delas já extintas no plano material.

Portanto, por ser a somatória do conhecimento de espíritos doutrinados em outras religiões, a Umbanda não pode e não deve optar por nenhuma delas porque não seria aceita por todos os umbandistas, com cada um tendo seu mentor espiritual formado por alguma das outras religiões do passado ou da atualidade.

Logo, a Umbanda tem que ter sua própria cosmogênese, genuinamente umbandista. Ainda que se sirva da base Yorubana na nomenclatura do seu Panteão Divino e das qualidades dos Orixás e tudo o mais, deve preservar a “essência” desse conhecimento que nos chegou através da transmissão oral para que o culto aos Orixás se perpetuasse no tempo e servisse de ponto de partida para o surgimento de novas religiões fundamentadas neles, tal como Judaísmo preservou sua cosmogênese que, posteriormente, fundamentou o Cristianismo e o Islamismo, grandes religiões da atualidade, muito maiores em número de seguidores.

Como qualquer uma das antigas cosmogêneses só agradaria um número limitado de seguidores da Umbanda, após observar a religião em seu lado material por muito tempo, os “espíritos superiores” que a fundaram através de Pai Zélio de Morais liberaram todo um conhecimento ainda não disponível até então no plano material que fundamenta todas as suas práticas religiosas e magísticas sem, em momento algum, contradizer ou negar a essência da cosmogênese Yorubana ou Nagô.
Até porque esse não é o propósito deles, e sim fundamentar tudo o que foi preservado e o que não chegou ao Brasil e só existe na Nigéria.

A cosmogênese disponibilizada pelos espíritos mentores da religião umbandista não se fundamenta em mitos ou lendas, e sim no estudo profundo e elevadíssimo desenvolvido nas escolas espirituais existentes nos planos mais elevados do nosso Planeta, estudo esse desenvolvido por espíritos que já não encarnam mais, porque ascencionaram à 7ª faixa vibratória positiva da dimensão humana da vida e hoje atuam em beneficio da humanidade através de suas hierarquias ou correntes espirituais, que chegam até o plano material através dos guias espirituais dos médiuns umbandistas e dos protetores espirituais que todo ser encarnado possui.

Essa cosmogênese é tão abrangente que explica a religião Umbanda, todos os Orixás cultuados nela, todas as linhas de trabalhos espirituais, todas as ancestralidades dos filhos dos Orixás, todas as práticas religiosas e magísticas realizadas na Umbanda e pelos umbandistas. Também explica as cores, o uso de colares, de fitas, de cordões, de toalhas, de flores, de pedras, de ervas, de velas, de líquidos, de pós, de pembas, de pontos riscados e cantados etc.

Enfim, ela explica a existência dos seres e das coisas criadas por Deus, assim como explica porque cada pessoa, seja umbandista ou não, possui ligação com os Sagrados Orixás e deles pode servir-se, mesmo que não tenha sido iniciada na Umbanda e nada saiba sobre eles, as divindades, mistérios que governam a Criação Divina.


Por: Rubens Saraceni

Um comentário:

  1. Bom dia,
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