De vez em quando ocorrem grandes tragédias coletivas e é
nessas horas que perguntamos: por que acontece esse tipo de coisa? Qual a
finalidade desses acidentes que causam a morte conjunta de várias pessoas? Como
a Justiça Divina pode ser percebida nessas situações? Por que algumas pessoas
escapam?
Claro que sabemos que Deus não nos julga e nem nos castiga.
Fatalidade, destino, azar são palavras que não combinam com
a Doutrina Espírita, da mesma forma que a sorte daqueles que escapam desse tipo
de situação, sempre há os relatos daqueles que desejavam estar no local da
tragédia e não conseguiram; daqueles que estavam no cenário e não sofreram nada
além do susto; e tantos outros.
Então, para a Doutrina Espírita, como se explicam casos como
esse? A resposta está no resgate coletivo, conceito que envolve a correção de
rumo de um grupo de Espíritos que em alguma outra encarnação cometeu atos
semelhantes – e muitas vezes em conjunto – de descumprimento da lei divina e
que, portanto, para individualmente terem a
consciência tranquilizada precisam sanar o débito. Toda a
problemática, nesse caso, está no trabalho dos mentores na reunião desses
Espíritos de modo a que juntos possam se reajustar frente à Lei Divina.
Pergunta-se às vezes o que se deve pensar das mortes
prematuras, das mortes acidentais, das catástrofes que, de um golpe, destroem
numerosas existências humanas. Como conciliar esses fatos com a ideia de plano,
de providência, de harmonia universal?
Quem nos explica sobre esta questão é Leon Denis, o sucessor
de Allan Kardec, em seu livro: O problema do Ser do Destino e da Dor, primeira
parte, item X – a Morte:
“As existências interrompidas prematuramente por causa de acidentes chegaram ao seu termo previsto. São em geral, complementares de existências anteriores, truncadas por causa de abusos ou excessos. Quando, em consequências de hábitos desregrados, se gastaram os recursos vitais antes da hora marcada pela natureza. Tem-se de voltar a perfazer, numa existência mais curta, o lapso de tempo que a existência precedente devia ter normalmente preenchido. Sucede que os seres humanos, que devem dar essa reparação, se reúnem num ponto pela força do destino, para sofrerem, numa morte trágica, as consequências de atos que têm relação com o passado anterior ao nascimento. Daí, as mortes coletivas, as catástrofes que lançam no mundo um aviso. Aqueles que assim partem, acabaram o tempo que tinham de viver e vão preparar-se para existências melhores.”
O Espiritismo explica com muita coerência, que cada um
recebe segundo as suas obras, porque todos nós estamos submetidos à Lei de Ação
e Reação ou de causa e efeito e à Lei de Evolução ou de Progresso.
Segundo a primeira, nós seres humanos, com nossos
pensamentos, sentimentos e ações, criamos causas que terão um efeito posterior.
O caráter positivo ou negativo das causas vão gerar o gênero desses efeitos. É
uma Lei que não castiga, mas que reajusta as ações cometidas pelo uso do nosso
livre arbítrio. Age devolvendo o caminhante desviado e perdido ao caminho
correto do bem e do progresso, através das encarnações sucessivas.
A Lei de Evolução ou do Progresso rege a transformação
contínua de tudo o que possui vida, desde os estados rudimentares e inferiores,
até formas mais perfeitas e complexas. Por intermédio dessa Lei, o ser humano
passou a ser o homem “civilizado” de hoje, abandonando suas etapas selvagens e
primitivas. Graças à Lei de Evolução e às provas sucessivas, às quais ela nos
submete em nossas existências múltiplas, nós seres humanos vamos corrigindo
nossas imperfeições, transformando nossos defeitos e debilidades em virtudes ou
qualidades, que nos empurram à conquista da vida espiritual. A aplicação do
nosso livre arbítrio fará com que essa Lei nos faça caminhar pelas trilhas do
bem, do amor e da felicidade, ou ao contrário, pelo caminho da dor.
Gerson Simões Monteiro, presidente da “Fundação Espírita
Cristã C. Paulo de Tarso”, em um artigo sobre as mortes coletivas, escreve que
as vítimas de um terremoto poderiam ser antigos guerreiros que, numa encarnação
anterior, destruíram cidades, lares, mataram mulheres e crianças sob os
escombros de suas casas e vitimaram a milhares de pessoas. Numa nova
encarnação, são “atraídos por uma força magnética pelos crimes praticados
coletivamente, reúnem em determinadas circunstâncias, e sofrem “na pele” por
meio de um terremoto ou outra catástrofe semelhante, o mesmo mal que fizeram às
suas vítimas indefesas de ontem.” São faltas individuais que influem no
coletivo.
Acrescentamos que os sobreviventes também são chamados a uma
transformação moral, a uma mudança em suas vidas, mas há pessoas que se
aproveitam da situação de caos, em uma região que sofreu citado terremoto, para
saquear, roubar, violentar e que se beneficiam com egoísmo das doações
recebidas. Para essas, a lição não é suficiente e se comprometem mais
seriamente ante a coletividade.
Temos também outro exemplo real, explicado nas páginas da
literatura espírita. No dia 17 de dezembro de 1961, um circo pegou fogo na
cidade de Niterói (Rio de Janeiro) e cerca de 500 pessoas faleceram.
No livro “Cartas e Crônicas”, psicografado por Francisco
Cândido Xavier, o Espírito Humberto de Campos relata a causa do acidente
explicando que no ano 177 da Era Cristã, Marco Aurélio reinava no império
romano. Mulheres, homens, crianças, anciões e enfermos cristãos eram detidos,
torturados e exterminados. “Mais de 20 mil pessoas já haviam sido mortas”.
Chegou a notícia da visita do famoso guerreiro Lúcio Galo
naquelas terras e os donos do poder queriam homenageá-lo de maneira grandiosa e
original. Decidiram queimar milhares de cristãos num espetáculo “à altura” do
visitante.
“Durante a noite inteira, mais de mil pessoas, ávidas de crueldade, vasculharam residências humildes e, no dia subsequente, ao Sol vivo da tarde, largas filas de mulheres e criancinhas, em gritos e lágrimas, no fim de soberbo espetáculo, encontraram a morte, queimadas nas chamas alteadas ao sopro do vento, ou despedaçadas pelos cavalos em correria.”
“Quase dezoito séculos passaram sobre o tenebroso acontecimento… Entretanto, a justiça da Lei, através da reencarnação, reaproximou todos os responsáveis, que, em diversas posições de idade física, se reuniram de novo para dolorosa expiação, a 17 de dezembro de 1961, na cidade brasileira de Niterói, em comovedora tragédia num circo.”
O notável Mediunato de Chico Xavier também nos esclarece
outro fato real ocorrido em São Paulo, no dia 1º de fevereiro de 1974,
data em que o Edifício Joelma se incendiou e deixou 188 mortos.
O Espírito Cyro Costa e Cornélio Pires se manifestam por
psicografia e deixaram dois sonetos que revelavam a causa das mortes em massa
no incêndio. As vítimas resgatavam os “derradeiros resquícios de culpa que
ainda traziam na própria alma, remanescentes de compromissos adquiridos em
guerra das Cruzadas”.
Com relação a mortes coletivas em aviões, o Espírito André
Luiz, no capítulo 18 do Livro Ação e Reação, psicografado por Chico Xavier,
esclarece que piratas que afundaram e saquearam criminosamente embarcações
indefesas no dorso do mar, ceifando inúmeras vidas, agora encarnados em outros
corpos, morrem, muitas vezes, coletivamente nos acidentes aviatórios.
Ainda na mensagem “Desencarnações Coletivas”, o benfeitor
espiritual Emmanuel esclarece outros motivos para as mortes que se verificam
coletivamente. Diz ele: “Invasores ilaqueados pela própria ambição, que
esmagávamos coletividades na volúpia do saque, tornamos à Terra com encargos
diferentes, mas em regime de encontro marcado para a desencarnação conjunta em
acidentes públicos.
Exploradores da comunidade, quando lhe exauríamos as forças
em proveito pessoal, pedimos a volta ao corpo denso para facearmos unidos o
ápice de epidemias arrasadoras.
Promotores de guerras manejadas para assalto e crueldade
pela megalomania do ouro e do poder, em nos fortalecendo para a regeneração,
pleiteamos o Plano Físico a fim de sofrermos a morte de partilha, aparentemente
imerecida, em acontecimentos de sangue e lágrimas.
Corsários que ateávamos fogo a embarcações e cidades na
conquista de presas fáceis, em nos observando no Além com os problemas da
culpa, solicitamos o retorno à Terra para a desencarnação coletiva em dolorosos
incêndios, inexplicáveis sem a reencarnação”.
Diz Allan Kardec, nos comentários da questão 738 de O Livro
dos Espíritos, que “venha por um flagelo à morte, ou por uma causa comum,
ninguém deixa por isso de morrer, desde que haja soado a hora da partida. A
única diferença, em caso de lagelo, é que maior número parte ao mesmo tempo”.
E finalmente, segundo esclareceram os Espíritos Superiores a
Allan Kardec, na resposta à questão 740 de O Livro dos Espíritos:
“Os flagelos são provas que dão ao homem ocasião de exercitar a sua inteligência, de demonstrar sua paciência e resignação ante a vontade de Deus e que lhe oferecem ensejo de manifestar seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, se o não domina o egoísmo”.
Fonte: Letra Espírita