4 de dez. de 2017

Mitologia de Iansã


Tão poderosa quanto o seu marido Xangô, Iansã é uma deusa que percorreu vários reinos em busca da sabedoria de outros orixás. Utilizando de sua ampla capacidade de despertar a paixão, aprendeu várias habilidades pertencentes a outras divindades. Só não conseguiu tal feito quando se deparou com Obaluaê, orixá que jamais se rendeu aos encantos de outro alguém.


Irrequieta tal qual o marido, Iansã tem forte espírito guerreiro e já foi de grande serventia quando Oxalá precisava vencer uma batalha. Nessa ocasião, ele contava com a ajuda de Ogum, feitor de armas. Contudo, mesmo se dedicando o máximo que podia, o orixá ferreiro não conseguia atender a demanda de Oxalá. Ao notar a reclamação do guerreiro, Iansã, que ainda não havia se casado com Xangô, se pôs a ajudar na fabricação das armas soprando o fogo que as forjavam.

Por meio desse mito, vemos que Iansã tem sua força ligada à participação nas guerras e no domínio dos ventos. Toda vez que um grande deslocamento de ar acontece, os devotos desse orixá reconhecem o seu poder de atuação. Dessa forma, sendo portadora dos ventos e senhora de batalhas, esse orixá feminino se destaca ao se mostrar detentora de habilidades e comportamentos tradicionalmente masculinos.

Oyá, outro nome comum para Iansã, também está ligada ao mundo dos mortos. Através de um instrumento litúrgico, feito com rabo de cavalo, ela conduz a trilha que estabelece esse contato entre os que não estão mais vivos. Além disso, é esse mesmo orixá que prepara roupas especiais para os mortos, chamadas de egungum. Por meio desse traje, os mortos adquirem a capacidade de voltar à Terra para entrar em contato com os seus descendentes.

Ao mesmo tempo em que é ligada ao fogo, por sua capacidade de despertar paixões, Oyá também está costumeiramente associada ao poder dos trovões e da eletricidade. Esse último poder foi adquirido junto a Xangô, que lhe ensinou tal habilidade em sinal do arrebatador sentimento que lhe tomou ao conhecer a bela divindade. Tal gesto de devoção seria crucial para que Iansã aprendesse a diferença entre um amor verdadeiro e a simples paixão.

No âmbito sincrético, a mitologia de Iansã é usualmente associada à Santa Bárbara, divindade católica que foi morta pelo pai ao se converter ao cristianismo. Após a execução de Bárbara, um raio atingiu a cabeça de seu progenitor. Pela razão do óbito, muitos equiparam a santidade católica ao poder que Oyá tem de controlar os ventos e raios. Além disso, o fato de Santa Bárbara ser representada com uma espada nas mãos reforça ainda mais a aproximação junto à divindade afro.

Por Rainer Sousa
Graduado em História
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