7 de nov. de 2016

Sobre caridade na Umbanda



Muito falamos sobre caridade na Umbanda, Certo? Mas que caridade é essa?
Não são raros os que querem e dizem que precisam praticar a caridade. E por caridade fica subentendido trabalhar em giras no terreiro incorporando uma entidade e dando consultas e passes aos consulentes.

Mas seria isso a caridade? Não estaria faltando algo a mais nessa perspectiva?

O mundo mudou, e a Umbanda deixou de ser uma religião marginalizada como antes, e hoje pode falar por si e pelos seus adeptos com orgulho de ser uma das únicas religiões genuinamente brasileira. Os umbandistas não se encontram mais a mercê de julgamentos de crentes de outras religiões logo que o conhecimento está acessível a todos, e chamar Umbanda de magia negra, coisa do demônio, manifestação de espíritos do baixo astral nada mais é hoje do que única e exclusivamente anacronismo.


Sim anacronismo, uma falsa análise baseada em preconceitos antigos e arcaicos, pois a Umbanda hoje ganhou seu espaço, tem intelectuais, livros, revistas, jornais, muitos meios de se posicionar e mostrar seu conteúdo de forma abrangente e lutando pelo seu espaço e dignidade dentro do ambiente social e político
.
O umbandista hoje explica o que é Umbanda ao invés de ouvir de quem não a conhece o que ela é. Antes éramos julgados por moralismos, hoje nós lutamos intelectualmente contra esses moralismos apoiados na constituição e no discernimento dos nossos direitos.

Pois bem, o mundo mudou, o perfil do umbandista mudou. Mas e a caridade?
A caridade foi e continua sendo a prioridade dos umbandistas, porém ainda existem pessoas que reduzem o significado do que isso representa.

Se conversarmos com qualquer membro mais velho de um terreiro, ele nos dirá que o que se faz na Umbanda socialmente é colocar em prática o evangelho de Jesus Cristo. Ou seja, nós umbandistas não lemos a bíblia de cabo a rabo e nem a levamos debaixo do braço, apenas identificamos o que Jesus praticou em vida e tentamos fazer igual.

Assim, buscamos ser humildes como Jesus foi, buscamos fazer o bem sem olhar a quem assim como Jesus fez, buscamos dar de graça o que temos sobrando assim como Jesus deu, buscamos repartir o que estiver contado ou até faltando assim como Jesus repartiu, buscamos largar os vícios e rancores para tentar nos sublimar perante ao mundo e as pessoas assim como Jesus sublimou.
Tá, mas onde entra caridade aí? Pois é... Para muitos isso tudo que aprendemos sobre a postura de Jesus em vida pode não representar muita coisa, mas isso é a caridade da Umbanda. É essa a essência maior de nossa doutrina.

Incorporar entidades, vestir o branco, fazer preceitos e rituais, isso tudo é secundário. A religião só cumpre seu papel caso nos torne seres humanos melhores. Ir ao terreiro uma vez por semana não garante que sejamos boas pessoas a semana inteira, logo que se não ampliamos o conceito do que significa caridade ficamos achando que ser umbandista é simplesmente uma questão de troca, de barganha. Vou ao terreiro, atendo e vou embora, e durante a semana o astral se encarrega de fazer o resto. Não!!!

Se você sorri de graça na gira, porque não sorrir de graça durante a semana? Se você abraça de graça durante a gira, porque não abraçar de graça durante a semana? Se você trata crianças, adultos e idosos com carinho na gira, porque não os tratar bem durante a semana?

A caridade acima de tudo é se doar o tempo todo, não apenas em quatro dias durante o mês.
Ninguém precisa ser santo, anjo ou algo do tipo. Mas ser umbandista é se vigiar, tentar se tornar cada vez mais uma pessoa melhor do que foi ontem, do que se é hoje. 

O mendigo chega no terreiro e você dá consulta, dá o passe. Mas se esse mendigo durante a semana te pedir um trocado você fechará o vidro do carro?

Muitos dos que chegam na Umbanda vieram justamente por não entender direito o mundo que se encontra cada vez mais caótico. Lutas hierárquicas, conflitos sociais, políticos, problemas diversos que nos mostra o quanto a sociedade contemporânea se encontra doente. E na Umbanda todos buscam a redenção, todos buscam uma elevação que no trabalho e na cidade dificilmente se encontraria.

Pois é, como agentes sociais nós umbandistas somos remediadores das cicatrizes da sociedade. Nossa caridade acima da incorporação é dar a quem tem fome, apoiar a quem é discriminado seja pela cor, pela opção sexual, pela classe social, ou qualquer desenquadramento que essa doentia sociedade tem dificuldade em aceitar.

Não adianta vestir o branco e se dizer caridoso se lá fora você pesa se o que tem fome é ou não merecedor de um prato de comida, de um cigarro, de um troco. Não adianta vestir o branco e se dizer caridoso sendo que não aceita as pessoas que carregam outras opções de vida que não sejam a sua. Ser caridoso é aceitar tudo isso sem alimentar pendores moralistas.

A Umbanda aceita a todos, ela te aceitou num momento de dificuldade onde o mundo talvez sem ela não estava lhe fazendo sentido. Como filho de uma mãe que lhe acolheu a maior prova de sua gratidão é abraçar aos outros irmãos independente de qualquer coisa. Isso é caridade, algo as vezes mais ligado a postura benevolente para com a sociedade e as pessoas do que simplesmente arriar no terreiro.

A caridade é olhar ao próximo como a si mesmo... Se doar ao próximo como a si mesmo... De graça e entendendo o seu papel dentro da Umbanda e tendo profundo conhecimento do que representa a Umbanda na história e no contexto atual de nosso país.
Está difícil viver em sociedade, e o umbandista é o remédio para essa dificuldade. Sejamos amplos em nossa caridade!!!

Umbanda é paz e amor.
Axé irmãos!!! Saravá!!!!!!! 
Grande abraço!!!


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